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sábado, agosto 08, 2015

É Pá, Isto É Um Tiro No Porta-Aviões

A culpa não é de Edson

Edson Athayde transformou-se num bode expiatório do mal-estar que grassa no PS. Nenhum mau cartaz consegue, contudo, explicar os motivos que justificam a dificuldade do PS em subir nas sondagens, reassumindo o seu papel tradicional de partido de alternativa na III República. Na verdade, as três razões pelas quais isso ocorre são de natureza política, e de culpa própria. Primeiro, o PS ainda não admitiu, frontalmente, a sua parte de responsabilidade política na chegada da troika a Portugal. O seu governo não percebeu (como não o perceberam, na altura, também o PSD e restante oposição) os claros sinais de degradação na zona euro, que vinham de antes da crise financeira global. O aumento irresponsável da dívida pública através de instrumentos lesivos do Tesouro e da transparência, como as PPP, tornou vulnerável o nosso país quando a solidariedade prometida no Conselho Europeu de dezembro de 2008 deu lugar à hegemonia da austeridade imposta pelo diretório, a partir do final de 2009. Segundo, em matéria europeia, ao PS não basta estar contra o servilismo da Coligação em relação a Berlim. Tem de ter capacidade para encontrar propostas e alianças próprias. Costa não pode continuar à espera de uma ideia redentora da Internacional Socialista. Infelizmente, Blair e Schröder, ontem, ou Gabriel e Hollande, hoje, fazem parte dos problemas que ameaçam destruir a Europa sonhada por Monnet ou Spinelli, e não da solução que a poderá salvar. Terceiro, Costa não tem razão quando a propósito da prisão de Sócrates continua a afirmar ser preciso separar o que é da justiça e o que é da política. A verdade é que com aquilo que já se sabe, antes de qualquer veredicto final dos tribunais, o PS deveria romper politicamente com Sócrates, para não ficar preso nas suas efabulações. Ficou provado que ele mentiu ao país, quando na RTP afirmou que os únicos rendimentos que possuía derivavam de um empréstimo da CGD. Mais ainda, nenhum eleitor pode aceitar, sem náusea, que um ex-primeiro-ministro movimente, furtivamente, avultadas verbas através de envelopes. Se isso não prova nada, o que sugere nada tem de bom. São questões que não se reduzem à esfera judicial. São atos de grosseira violação de princípios elementares de ética pública, que um partido, almejando constituir governo, tem de condenar, no plano moral, sem evasivas. Os eleitores querem clareza, neste tempo de sacrifícios e incertezas. Candidaturas com pedras no sapato e reservas mentais são convites à desmobilização e à derrota. O PS deveria ter a coragem de mudar de política e não de publicitário.

Por Viriato Soromenho Marques
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=4717130

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