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sexta-feira, dezembro 23, 2011

Este Natal não encontrei a Dona Felicidade

Neste Natal de 2011 não tenho razões para estar feliz. O meu país é governado por gente eivada de um espírito fascista. O primeiro ministro faz a apologia do empobrecimento geral e incentiva os professores a emigrar. Os salários estão cada vez mais baixos. A saúde está ao preço do diamante. A escola dos meus filhos degrada-se a passos largos. Os pais parece que vão ser criminalizados pelo mau comportamento dos filhos. A justiça continua de olhos vendados. O exercício da cidadania é vigiado por agentes infiltrados à paisana. O ambiente e a cultura parecem já ter emigrado. As reformas dizem-nos vão passar para metade do seu valor. Os despedimentos vão tornar-se líquidos. A protecção social está ao nível da miséria. O desemprego é um espectro que gera medo em cada virar de esquina. O poder de compra caiu para níveis nunca vistos. As férias vão deixar de o ser. Os feriados perderam a sua história. A minha confiança no poder político está pelas ruas da amargura. A esperança foi erradicada pelo novo dicionário da novilíngua. A comunicação social é manipulada. A democracia antes plena agora tem falhas. O meu valor como pessoa é definido por uma qualquer agência de rating. O poder local é do tamanho da cabeça de um polvo. O futuro dos meus filhos está hipotecado. A minha palavra nada conta. As poucas moedas já não chegam para os meus mendigos. Por todo o lado me dizem que as prendas estão reduzidas ao mínimo. Outros dizem-me que só nos resta fazer sacrifícios. Muitos querem-me convencer que vivi acima das minhas possibilidades. Quem manda deseja-me votos de Feliz Natal. Dom Policarpo diz-me que tudo isto é uma inevitabilidade. Por tudo isto e por aquilo de que já nem me lembro nem tenho sequer força para escrever, vou-vos confessar que não tenho coragem de vos desejar um Feliz Natal. Não me sentiria bem comigo próprio oferecer-vos como prenda a mais profunda hipócrisia. Que entre aqueles que vós amais e entre aqueles que vos amam tenham uma noite de alegria e fraternidade. Eu vou tentar que seja assim.

4 comentários:

  1. Vítor Aleixo12:35 da manhã

    João a sua palavra conta e muito.Aplaudo o seu texto corajoso e desassombrado.
    É verdade que este Natal não é mais um,igual aos outros.É verdade que o espírito desta festa está a ser devorado pelo capitalismo selvagem que semeia pobreza e violência social e que assim,para muitos,soa a falso desejar Feliz Natal.
    Num outro contexto,muito semelhante ao actual, Gramsci escrevia:" o velho mundo agoniza, e o novo mundo luta por nascer:agora é o tempo dos monstros"
    Vivemos tempos sombrios mas não desistamos de sonhar.

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  2. Caro Vitor Aleixo,

    Aproveito para lhe desejar boas festas para si e para os seus e para lhe dizer que é um prazer para mim tê-lo como visitante deste blogue. Não é todos dias que se vê uma abertura de espírito como a sua em quem já representou cargos públicos de grande relevância e participa com a maior humildade num blogue que nem sempre prima pela simpatia do ponto de vista da critica social e política. A democracia precisa de gente assim.

    Um abraço
    João Martins

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  3. Vítor Aleixo7:59 da tarde

    Boas Festas também para si e família.

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  4. Excelente o texto, óptimo o comentário do Vítor Aleixo.

    Abraço,

    Jorge

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