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quinta-feira, abril 28, 2011

Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011)

Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011) morreu ao princípio da noite de terça para quarta-feira. Figura ímpar de historiador e de democrata, o seu nome e a sua obra passarão à história e ficarão inscritos no panteão da nossa memória colectiva, numa genealogia onde só cabem, antes dele, Oliveira Martins e Jaime Cortesão. Nasceu em Lisboa, de família republicana, com raízes na região de Ovar.

Nele se manifestaram, desde muito cedo, o interesse pela história e pelas questões de lógica aplicadas às ciências humanas e sociais. Em 1940, licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, tendo sido nomeado professor extraordinário da Faculdade de Letras de Lisboa (1941-44).

Em 1959, enquanto investigador do Centre National de Recherche Scientifique e após longa integração na chamada École Pratique des Hautes Études, associada à célebre revista "Annales", defendeu o seu doutoramento de Estado na Sorbonne. Regressou, então, a Portugal como professor catedrático do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (1960-62). Duas vezes nomeado professor em universidades portuguesas foi, em ambos os casos, demitido por razões políticas. A sua inquebrável defesa dos valores da cidadania democrática e a sua lúcida adesão aos valores republicanos forçaram-no ao exílio. O pior dos quais terá sido o que viveu no desemprego, mas envolvido em intenso trabalho intelectual e editorial, ao longo dos oito anos que se seguiram à greve académica e ao rebentar da Guerra Colonial.

Em 1970 voltou a França para integrar o corpo docente da Universidade de Clermont-Ferrand. Após o 25 de Abril, regressou a Portugal, tendo sido Ministro da Educação e Cultura (1974) e Director da Biblioteca Nacional (1984), cargos dos quais se demitiu por discordâncias políticas que sempre tornou públicas. Foi professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa, desde 1975. O seu projecto de criação de uma verdadeira faculdade de ciências sociais e humanas, organizava-se em torno de uma maneira de pensar historicamente, mas foi desvirtuado e infelizmente mal compreendido.

Um modo global e interdisciplinar de pensar historicamente os problemas do presente, como era a sua proposta, foi substituído por uma concepção entrincheirada da história e das ciências sociais. O Prémio Balzan, espécie de Nobel para as Humanidades e Ciências Sociais, que lhe foi conferido em 1991, constituiu o reconhecimento internacional por uma obra e o modo como sempre soube excercer o seu ofício de historiador.

Entre os seus principais livros contam-se: "Razão e História - Introdução a um problema" (1940); "Documentos para a História da Expansão Portuguesa" (1943-1956); "A Expansão Quatrocentista Portuguesa" (1944); "Prix et monnaies au Portugal, 1750-1850" (1955); "A economia dos descobrimentos henriquinos" (1962); "Os Descobrimentos e a Economia Mundial" (1963-1971; edição francesa, 1966; edição revista, 1983-1984); "A Estrutura da Antiga Sociedade Portuguesa" (1971), "Mito e Mercadoria, Utopia e Prática de Navegar, Séculos XIII-XVIII" (1990). A este vasto elenco, acrescentam-se diversos volumes de ensaios, a direcção da enciclopédia Focus e da Revista de história económica e social, pela Sá da Costa; e a direcção de várias colecções na Cosmos.

Por Diogo Ramada Curto aqui: http://aeiou.expresso.pt/vitorino-magalhaes-godinho-um-historiador-internacional=f645573

Nota: Sem o criador não haveria criaturas. Como estudante do Departamento de Sociologia da FCSH da UNL aqui fica a minha homenagem ao professor Vitorino Magalhães Godinho.

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