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domingo, abril 24, 2011

A Suspensão da Democracia


1. Nas vésperas do 25 de Abril de 2011 o regime democrático está em risco. Meia dezena de banqueiros transformaram a democracia, para usar a feliz expressão do historiador e deputado europeu Rui Tavares, numa bancocracia. José Sócrates que sempre seguiu quer a nível interno quer a nível europeu as grandes orientações do grande capital pôs mais uma vez o rabo entre as pernas quando os banqueiros portugueses se intrometeram na sua estratégia de sobrevivência eleitoral. Os banqueiros chamaram o FMI e Sócrates fez o que tinha a fazer. Peço desculpa a todos os democratas deste país, mas uma bancocracia não é uma democracia.

2. Chegou a Portugal uma Troika (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) cujo "jornalismo macio", para usar uma versão cavaquista via Wikileaks, insiste em bombardear a população portuguesa com a expressão "negociação". No limite o que a troika está a fazer não passa de uma auscultação. A expressão mais adequada será legitimação, pois é de legitimação do austeristarismo recessivo e do sofrimento quase colectivo aquilo de que se trata. Quase colectivo porque os responsáveis pela situação em que nos encontramos, a grande burguesia nacional e internacional encara Portugal como um mero ponto fixo na exploração global do planeta terra. E se, portanto, não há "negociação" e apenas há auscultação então chegámos à morte da democracia. No limite do absurdo há um partido da miséria partidária nacional que diz que o seu programa de governo é o programa do FMI. Para onde te deslocaste cara democracia?

3. Mas se a bancocracia e a Troika dos PEC's são os sinais mais evidentes que o que está em causa é a democracia, a erosão desta última não é uma questão conjuntural. A globalização económica e financeira, suportada pela economia de casino, pelas agências de rating, pelo capital financeiro e pelas práticas espoliadoras dos investidores e da banca internacional converteram os políticos em agentes de administração do capital da nação. Como as grandes decisões que afectam a nossa vida de todos os dias vêm cada vez mais emanadas de organismos internacionais em grande parte não sujeitos ao sufrágio universal, porque carga de água continuamos nós a chamar a isto democracia? Há por aí algum português que tenha votado no FMI?

4. As soluções complexas para os problemas monstruosos com que hoje nos deparamos não se conseguem sem o máximo exercício de cidadania. É preciso refundar a democracia e penso que o movimento "geração há rasca" traz consigo uma parte da solução. Fazer de cada cidadão um político e iria eu mais longe, fazer de cada político um cidadão. As escolhas que fizermos no futuro próximo condicionarão decisivamente o nosso futuro. A entrega dos nossos destinos nas mãos dos outros (coisas do género "eles" é que sabem) através do conformismo e da resignação levar-nos-á a menos democracia, mais desigualdades, mais pobreza, mais desemprego e menos desenvolvimento económico e social. A recusa das "inevitabilidades", das "naturalidades", dos consensualismos retrógados e das soluções únicas é aquilo que nos pode permitir construir um mundo melhor. A escolha está nas mãos de cada um de nós. Abril e Maio são meses óptimos para fazer escolhas.

2 comentários:

  1. Se o Correio da Manhã o Jornal do Povão disser amanhã que o Socas não é o verdadeiro culpado da crise, na próxima sondagem os mesmos diraõ agora que é o Zequinha ou o Joanico o culpado. Uma coisa é certa. Culpar um homem por uma crise mundial é de uma cretinice e de uma injustiça que brada aos céus. Todos temos culpas. Andámos entretidos a viver à americana. E ninguém protestou quando foram dadas regalias que mais tarde sabíamos que as teríamos que pagar.
    É evidente que a culpa é de muita gente cá dentro e lá fora. Mas ninguém diz isso. Há apenas um culpado segundo a voz do lixo: C.M. E a malta gosta e gosta e gosta!
    Castelo

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  2. Cretinice é olhar para as sombras da caverna do Platão e pensar que isso é a realidade. Isso é a verdadeira cretinice.

    Cumprimentos
    João Martins

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