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segunda-feira, abril 11, 2011

FMI É Bom, Bancarrota É Óptimo


1. O FMI já aterrou em Portugal. Quer dizer, ele já cá estava, ou não fossem os PEC I, II, III e IV as receitas tradicionais do FMI. Agora que os tipos já nao se limitam a enviar as receitas por msn, pelo skype, ou pelo facebook (tão caro ao Presidente Silva) e que os técnicos estão cá para nos dizer como nos vão governar de cara a cara, o filme vai ser arrasador. Desemprego nunca visto. Pobreza a disparar em massa. Abaixamento do nível de vida. Aumento de impostos directos e indirectos. Precarização oficial da precaridade. Retirada de direitos sociais em massa. Retirada de indeminizações face à condição de despedido. Privatização dos recursos públicos mais apetecíveis. Suspensão da democracia por mais de seis meses. A crise foi aproveitada pelo capital para conseguir implementar o que sempre sonhou implementar e que até aqui nunca encontrou coragem e condições para o fazer. Os ricos continuarão mais ricos. Os pobres afundar-se-ão em mais pobreza. Chama-se FMI. Quer dizer, Fundo Monetário Internacional.

2. Este fim de semana realizou-se o congresso dos fiéis. Se na estrita lógica da manutenção do poder o partido socialista poderia ter boas razões para aclamar incondicionalmente o líder que nos levou à bancarrota, do ponto de vista da democracia portuguesa e dos problemas gigantescos que o país enfrenta aquilo que aconteceu no congresso do PS foi uma enorme falta de respeito pelos cidadãos do nosso (?) país. Para perceber os seis anos e meio de governação socrática é preciso ler a obra 1984 de George Orwell. Sem se ter lido 1984 não é possível perceber o que foi a governação socialista. A novilíngua, o branqueamento da memória, a propaganda a níveis nunca vistos, a mentira como estratégica de manipulação das massas, o completo desrespeito pelos valores da democracia, a corrupção e a colonização do Estado a coberto das leis da república. A simbólica da governação socialista está espelhada no acto do deputado mãos de tesoura, que zela no partido socialista pelas questões da justiça portuguesa, quando este não teve o pudor público de roubar os gravadores aos jornalistas que lhe faziam perguntas incómodas, na casa da democracia. Dito isto, a vitímização vai ser a única coisa que resta ao governo neoliberal que se auto-convenceu ser socialista. Talvez já só falte a Sócrates introduzir a bancarrota na novilíngua socialista. Nesse dia vamos ouvir encantados: - Bancarrota é bom, pior é viver sem uma perna. Bancarrota é bom, pior foi o holocausto Nazi. Só com a leitura de 1984 é possível compreender a governação socialista de Sócrates 2005-2011. Sem essas centenas de páginas ficamos sem elementos de reinterpretação da história que Sócrates nos conta embevecido.

8 comentários:

  1. Vítor Aleixo1:12 da manhã

    João raramente discordo do que publica nesta sua tribuna de liberdade que tanto enobrece o debate público doméstico.Hoje não só discordo como discordo muito e por isso aqui vão meia dúzia de linhas a justificar.
    Que a intervenção do FMI em Portugal terá consequências dramáticas para todos nós é uma certeza que tenho há muito tempo.Quem sabe os tempos que aí vêm.
    O 1984 obra que reli recentemente não nos ajuda em nada a compreender a actual situação de portugal e menos ainda do PS.Eu não tenho problemas em subscrever opiniões críticas e contundentes à governação do partido socialista liderada por José Sócrates.Mas as críticas quando são excessivamente fulanizadas correm o risco de não atingir o que realmente importa:a injustiça gritante do sistema que nos vem governando nos últimos anos.E isto independentemente de qual tenha sido o 1º ministro ou o partido governante.Já pensou que com o clima que está criado no país e que se irá acentuar no decorrer da campanha eleitoral as pessoas tenderão a pensar que muita coisa se resolverá mal o " diabólico" Sócrates seja apeado e se canonize o santo que se segue.Não eu não vou por aí !
    Nós estamos a viver um momento glorioso e de grande apogeu do "sistema capitalista" da " economia de mercado " do " Ocidente " chamemos-lhe o que se quiser falamos sempre do mesmo.A lógica do seu desenvolvimento ataca agora o único reduto do capitalismo com regras que sempre foi a Europa no pós guerra e vem meter no bolso direitos e conquistas civilizacionais com a conivência activa de sociais democratas/socialistas democráticos.E é aqui que entram Sócrates,Blair,Schoder,Zapatero Papandreu e outros que tais.E é isto que é necessário ver.
    Quando se diaboliza uma personalidade tal como se tem feito com Sócrates é a política a resvalar para o terreno da religião quando o caminho que devemos procurar é o da compreensão racional das coisas.
    Uma crítica contundente das políticas de Sócrates não deveria nunca catapultar Passos Coelho para a chefia do próximo governo.E esse é o grande risco.Quanto mais depressa se perceber que esta - concreta - Democracia que temos com o rotativismo dos dois principais partidos políticos é incapaz de gerar alternativas ao actual sistema económico melhor para todos nós.
    Um abraço

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  2. Caro Vitor Aleixo,

    Nada me move pessoalmente contra Sócrates, para além da sua condução política do país ter sido desastrosa (faria aqui um manifesto se analisasse em particular a política económica, ambiental, cultural, a corrupção no aparelho de estado, a relação com a justiça, etc, etc, etc, e não tenho tempo para o fazer aqui, nem tempo, nem já vontade). Portanto, não vale a pena usar essas abastracções generalizantes como o "mercado", o "sistema capitalista" e outras que tais imaginando que as mesmas não são conduzidas por pessoas. Infelizmente PS e PSD são os grandes responsáveis pelo caminho que nos trouxe até aqui e o PS e o PSD são partidos que se colaram acriticamente ao "sistema" para onde o Vitor aponta as baterias. São os homens e as mulheres que fazem a História, embora eles nem sempre saibam a história que fazem. O governo PS foi o principal responsável governativo dos últimos seis anos em Portugal. Não querer ver isso é querer branquear a história. E aí entra o 1984, no sentido do apagamento da memória de que aliás o governo de Sócrates se tornou um perito. Então vamos todos esquecer como o PEC IV não foi negociado e apontar baterias para a oposição? O Vitor assistiu ao congresso do PS? Viu o mesmo congresso que eu vi?

    Cumprimentos
    João Martins

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  3. Vítor Aleixo11:36 da tarde

    Não.As abstracções generalizantes que refere e que eu prefiro chamar, estruturas concretas, condicionam fortemente a acção política.É por isso que penso que as personalidades têm menos importância no curso da História que aquela que normalmente lhes é atribuída.E é por isso também que penso que a política que Sócrates seguiu neste últimos anos bem poderia ter sido executada - menos teimosia ou mais vaidade - por um Passos qualquer.Numa frase simples: valem menos os homens que as estruturas onde a sua acção tem lugar.
    O problema para mim está na falta generalizada de consciência de que só uma acção política sistemática que ponha a nu os podres deste sistema económico e ao mesmo tempo vá avançando com ideias alternativas nos poderá fazer sair do atoleiro em que nos afundamos todos os dias.
    Critique o Sócrates à vontade que não serei eu que o defenderei.Mas olhe que o Passos é mais do mesmo - e para pior - e daqui não saímos.
    E sei perfeitamente que a sua posição não é minimamente a da defesa do novo santo que desponta.despontará mesmo?

    Um abraço
    Vítor Aleixo

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  4. Caro Vitor Aleixo,

    Penso que são mais os pontos de acordo que os nossos desacordos. Todavia, penso que a grande diferença é que eu acho, sabendo que o que aí vem é pior (ainda)do que o que está (e pior é coisa difícil), estou convicto, que é fundamental que os responsáveis sejam responsabilizados. Estamos numa época triste no que a isto diz respeito. Há uma catástrofe nuclear e elogiamos o comportamento ordeiro das vítimas. Arrastamos um país para a bancarrota e achamos que a culpa é do "sistema" e que os homens e mulheres são simples marionetas que reproduzem (inconscientemente?)o dito cujo (não será isso uma forma de desresponsabilização política? Se tudo se equivale para quê fazer política?). Despejamos quantidades infinitas de dinheiro dos contribuintes para "salvar" a banca e achamos que quem manda pode, etc, etc, etc. Penso que um primeiro passo é o apuramento de responsabilidades dos responsáveis, só isso permite chegar a uma saudável accountability. Sem isso a política torna-se obscena. O primeiro passo é o apuramento de responsabilidades. A Islândia é o exemplo. Depois de um governo de direita que se adivinha desastroso, haveria em Portugal condições para a fabricação de um governo de centro esquerda. Contudo, lamento voltar a repetir, neste momento, este PS, é o grande obstáculo a que isso aconteça.

    Com cordialidade
    João Martins

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  5. Como dizia o ambientalista Lutzemberger: "devemos repensar todo o nosso pensamento econômico".

    http://youtu.be/hKjojoP0sn0

    Cesar

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  6. Gostei de ler a vossa troca de impressões que considero bastante saudável!!! Luís Furtado.

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  7. Olá César,

    Obrigado pelo contributo. Excelente a intervenção. Vou fazer um post com o video. Um grande abraço aí para Porto Alegre.

    Olá Luís. Democracia é isto mesmo. A estatura das pessoas também se vê nestes momentos e vejo claramente no dr. Vitor Aleixo uma referência da democracia louletana, mesmo quando não estou de acordo com as suas posições.
    Um grande abraço

    João Martins

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  8. João,

    José Lutenberger foi um dos fundadores da AGAPAN, que este ano comemora 40 anos, entidade pioneira no ambientalismo brasileiro.
    Foi ele também que sugeriu que os estudantes subissem nas árvores que o poder público queria cortar para dar passagem a uma avenida que estava sendo construída. Isso realmente ocorreu em 25 de fevereiro de 1975.

    Cesar

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