A minha Lista de blogues

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Votar e Fazer Viver a Democracia

1. Domingo, 23 de Janeiro, se continuar no mundo dos vivos até essa data, lá estarei na Freguesia de São Sebastião, na cidade de Loulé, na Escola com o nome da Mãe Soberana, para colocar o meu voto em branco na urna. A democracia é uma coisa demasiado séria para ser deixada aos políticos e como ela não é uma qualquer essência que caminha por si eternizando-se para todo o sempre, ela tem que ser continuamente alimentada. Não sendo o regime perfeito, ela continua a ser o menos mau dos regimes que conheço. O meu voto em branco significa, portanto, que considerando a democracia e a vida partidária essencial à organização da vida política e social dos cidadãos, ela está a ser, politicamente, muito mal tratada.

2. A campanha para estas presidenciais não pode ser compreendida sem o pano de fundo da situação económica e social do país. Num contexto de prenúncio de bancarrota, o que era importante discutir saiu fora da discussão política. A margem de autonomia relativa que tem o Estado Português face às políticas da União Europeia era talvez a questão mais importante a discutir. O pânico instalado, face à sensibilidade dos ouvidos do mercado, qual Big Brother Orwelliano, assustou os candidatos de discutirem a política económica do país. Sem esta discussão nada mais nos resta do que ser um bom aluno do omnipotente "mercado". No limite, não se fará mais política, porque as taxas de juro podem subir. Não sei, se com esta concepção de democracia, o que estará em causa, não será a própria democracia.

3. Nestas eleições presidenciais fiquei orfão da democracia. Votar Cavaco seria votar num candidato com uma concepção limitada da vida democrática, excessivamente conservador, desfasado das necessidades do país, e que reduz o social à economia e não contente com isso, reduz a economia a más finanças. Cavaco cheira a bafio. O candidato mais próximo da visão do Portugal rural de Salazar. Uma tragédia política.

4. Alegre seria naturalmente o meu candidato. No dia que saiu à rua em Coimbra, nas legislativas de 2005, lado a lado com José Sócrates, fiquei sem candidato em que votar. Não se pode fazer oposição ao governo e ao partido durante anos seguidos e depois ser apoiado por este mesmo partido. Ou se é contra o PEC, ou se é a favor do PEC. Ou se concorda com o corte no subsídio para desempregados, ou se discorda do corte dos subsídios para desempregados. Ou se concorda com o aumento de impostos, ou se discorda do aumento de impostos. As duas coisas ao mesmo tempo, é a morte da política. Ser apoiado pelo partido socialista mais à direita do pós 25 de Abril e pelo Bloco de Esquerda, é uma trampa para o partido que se apregoa socialista e para o próprio Bloco de Esquerda. O Bloco também já teve melhores dias. Os apoios contraditórios e ambivalentes da candidatura de Alegre transformaram a sua campanha numa alegre esquizófrenia.

5. Por momentos estive inclinado em votar em Francisco Lopes. Foi o único que falou a sério da recessão económica, do problema do desemprego, do modelo económico que é necessário inverter, do roubo no corte de salários. Mas não acredito em amanhãs que cantam, nem na ditadura do proletariado (faço parte da geração que nunca acreditou nisso) e muito menos poderia dar o meu voto a um partido que criticou a atribuição do último prémio nobel da paz a um dissidente chinês defensor da democracia. Independentemente disso, Francisco Lopes credibilizou a política.

6. Fernando Nobre, um homem com uma vida profissional de excelência, também não é coisa nenhuma politicamente. Apresentando-se como um candidato anti-sistema, foi verdadeiramente o candidato anti-Alegre. Não se chegando a perceber se é de esquerda ou de direita, percebeu-se sobretudo que a política transforma o mais pacífico dos seres humanos num potencial demagogo da política. A determinada altura da campanha desafiou Alegre a apoiá-lo na segunda volta. A desgraça instalada um pouco por todo o mundo precisa da experiência de Nobre noutros caminhos que não nas aventuras da política.

7. Defensor Moura, foi mais um candidato anti-Alegre. O governo de Sócrates sabe-a toda. Alegre arranjaria muito mais trapalhadas ao governo de Sócrates do que o conservador Cavaco Silva. Dos candidatos sem aparelho partidário a apoiá-lo explicitamente foi o que fez uma campanha mais discreta. Com os meios de que dispunha também não podia fazer muito melhor.

8. O candidato Coelho não é um candidato no verdadeiro sentido da palavra. Mas ao contrário da opinião reinante nos media nacionais, creio que se olharmos para a substância e pormos de lado a forma e o estilo, foi um candidato importante ao por questões incómodas na arena pública, que não são questões menores para a democracia portuguesa. Não é uma coisa menor a violência sobre a oposição na Madeira. Não é uma questão menor o controlo dos meios de comunicação na Madeira. Não é uma questão menor para o continente a vida política da Madeira. Tal como não é uma questão menor a vivenda da gaivota na aldeia da Coelha, a corrupção instalada no aparelho de Estado, ou a ruína, para os contribuintes e para o Estado, das vigarices dos amigos de Cavaco, na SLN e no BPN. Discordando do estilo importado do general Giap, não jogo nada fora das perplexidades de Coelho, no que toca às questões de substância. Por muito que se ponha os olhos na forma e se tape os ouvidos à substância, por muito que nós saibamos que o senhor Coelho não tem nenhuma vivenda, na Aldeia da Coelha, a Aldeia da Coelha existe e a bem da democracia, deve ser escrutinada.

2 comentários:

  1. Nem mais nem menos ! Palma

    ResponderEliminar
  2. Ir votar em quem e para quê
    Se não nos dão emprego?
    A fome no País,
    Já não é segredo.
    O meu voto também será em branco.

    ResponderEliminar