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sábado, setembro 11, 2010

Do Pré-Escolar Público

1. É difícil constituir família nas terras do dr. Emídio. Depois de três anos de infantário privado a preços "classe alta" o Pedro conseguiu pela primeira vez entrada no pré-escolar público. Estando inscrito já desde o ano passado e não tendo entrado, pois são às dezenas as crianças à espera de "vaga" para entrar, este ano, apesar de já fazer os seis anos em Dezembro, só teve "espaço" novamente, no ensino pré-escolar (e vá lá, já não é mau), uma vez que a administração educativa e os educadores para legitimarem a ausência de espaço, interiorizaram o arbitrário mês de Setembro como a fronteira cognitiva e afectiva que separa as crianças "maduras" das "imaturas". Gostava eu que me demonstrassem a evidência científica que faz com que as crianças a dois meses de fazerem seis anos não estão preparadas para a entrada no primeiro ciclo. Não falo de crenças professorais, falo mesmo de evidências científicas. Desconfio que com educadores "maduros" dois meses de diferença não seria grande problema.

2. Início de ano lectivo. Primeira reunião de pais. Não há uma segunda oportunidade de causar uma boa primeira impressão. Educadora, animadora e auxiliar a exercerem o seu papel com muita competência. Preocupação de informar os pais e dar a conhecer as regras de funcionamento e de conduta expectáveis, organização e preocupação de fazer bem. A primeira impressão não podia ser melhor. Depois vem o lado das coisas da política e desse lado, logo na primeira noite de pré-escolar público ganhei uma insónia daquelas que duram até de manhã.

3. Não sei se por motivos das leis para a educação da República, se por decisão da administração do agrupamento escolar, foi-me dito que o ensino pré-escolar público não pode fornecer actividades de enriquecimento curricular para as crianças que agora iniciam os primeiros contactos com esta organização escolar. Depois da escolha dos representantes dos pais, manifestei a minha preocupação com o facto das crianças poderem usufruir de actividades como a educação musical, a ginástica e o Inglês, tudo actividades que o Pedro tinha tido no ano anterior no ensino pré-escolar privado. Para minha estupefação, foi-me dito que a escola não se responsabiliza pela organização deste tipo de actividades e que isso terá que ser organizado pela Associação de Pais. Depois de anos e anos a estudar e a investigar os mecanismos escolares de fabricação das desigualdades sociais e culturais, foi em estado de choque que recebi a notícia de que a escola não se responsabiliza e não quer saber que na ausência de actividades de enriquecimento curricular a estas crianças nada mais reste do que o empobrecimento curricular. Estou expectante que a associação de pais resolva o problema. Sim, por enquanto não me importo de pagar. Não sei se pais que ganham 500 euros de salário mensal o poderão fazer.

4. Aproveitando a insónia noturna, fui ler a carta educativa do concelho de Loulé e o relatório de avaliação externa do agrupamento escolar. E está lá, preto no branco para quem quiser saber. Da carta educativa pudemos saber que a taxa de corbertura do pré-escolar está a léguas das necessidades correspondentes à procura escolar. Do relatório de avaliação externa fiquei a saber que um dos "constrangimentos" apontados pela Inspecção Geral de Educação é precisamente a ausência de espaços, o que torna inexequível, por um lado o terminus do horário em regime "duplo" no 1º ciclo e por outro lado, a realização de actividades de enriquecimento curricular do ensino pré-escolar. Constata-se ainda que a construção do Novo Centro Escolar virá contribuir para a resolução deste problema. Mas o Pedro terá a culpa das inércias político-administrativas existentes até ao presente momento? Entretanto, o Miguel iníciou a sua carreira num infantário privado. Por ausência de alternativa no sistema público obviamente. Viva a noite branca!

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