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sábado, março 13, 2010

O Grande Aldrabão

Numa sondagem recente do jornal Público, 59,8 por cento dos portugueses inquiridos considerou que o grande aldrabão, tinha mentido em plena Assembleia da República, quando afirmou taxativamente que o governo não sabia da intenção da PT em comprar a TVI. O Zé Povinho não é nada parvo. Se algum governante julga que pode aldrabar o chico esperto que há em cada um de nós desengane-se. Ainda está para nascer o primeiro governante aldrabão que seja capaz de nos passar a perna. Mas uma coisa é a nossa inteligência tão especificamente portuguesa, que faz de cada um de nós, um chico esperto, impossível de enganar, outra coisa, totalmente diferente desta, é a importância que cada um de nós dá a essas mesmas aldrabices. Do mesmo conjunto de inquiridos que acham que o primeiro ministro é um aldrabão, 40 por cento votaria no PS, o partido que é "chefiado" pelo aldrabão mor.

E isto leva-nos a pensar sobre o país que nós somos e sobre a importância que damos à mentira como factor de credibilidade social das instituições e do país em que vivemos. Ao fim e ao cabo todos nós já mentimos nas nossas vidas. A pequena e a grande infidelidade às namoradas, aos namorados, às mulheres e aos esposos. A mentirinha ao colega de trabalho que nos permite ficar de bem com ele e com o nosso superior hierárquico. A mentira aos nossos filhos que nos permite estar tranquilos face às grandes chatices da verdade familiar. A mentira no acto da compra da casa, que ao fim e ao cabo quase toda a gente compra pelo preço superior ao que declara na escritura. A mentira partilhada com o canalizador, ao Estado, quando não se passa recibo do serviço prestado, mas que também nos dá muito jeito, pois afinal, assim, a coisa até saí mais barata. Resumindo, em cada um de nós há um grande aldrabão em grande potência.

E se isto é assim, por que carga de água haveria o mais comum dos mortais, José Carvalho Sócrates Pinto de Sousa, primeiro ministro de Portugal, um par entre cada um de nós, certamente, esse porreiraço que até faz jogging um pouco por toda a parte do mundo, um tipo tão duro e determinado, à semelhança de cada português, não ser mestre na arte da grande mentira? Não se vê razões para isso. Mais vale um mentiroso que um coxo, que isto da política não é coisa destinada a gente séria.

Esta semana foi aprovado o PEC. O Plano de Extermínio dos Contribuintes, segundo o grande entrevistador da nação, Miguel de Sousa Tavares, no Expresso de hoje. Programa de Instabilidade e Empobrecimento, segundo Fernando Madrinha, no mesmo jornal do mesmo dia. Ou ainda, o Plano para Enganar os Contribuintes, segundo a minha própria interpretação, porque o post afinal é de aldrabice que trata, plano este, que em meu entender, vai provocar a maior intabilidade política e social das últimas décadas da vida democratica portuguesa.

O Grande Aldrabão, chegou ao poder, com a grande mentira, em directo na RTP do governo, de que não iria aumentar os impostos. Alguns dias depois, o goveno anunciou o aumento dos impostos. O grande aldrabão fez toda a última campanha eleitoral centrada sobre a necessidade de investimento público. O investimento público em Portugal tem vindo a ter um decréscimo significativo. O grande aldrabão anunciou um plano anti-crise para combater o sofrimento dos mais desfavorecidos. Mais de metade desse plano não saiu da propaganda anunciada. O grande aldrabão, atacou ferozmente Ferreira Leite, face às afirmações desta última, no sentido da necessidade de adiar os grandes projectos de investimento, tais como o TGV e companhia. O grande aldrabão anunciou agora o adiamento desses mesmos projectos. O grande aldrabão mente descaradamente numa mera lógica estratégica de utilização da mentira como instrumento de manipulação das massas. O grande aldrabão conseguiu a aprovação do Plano Para Enganar os Contribuintes com a conivência tácita da direita portuguesa. O grande aldrabão quer convencer-nos de que é socialista e de que o seu partido representa a esquerda da vida partidária. O grande aldrabão não percebe que os portugueses fingirão que acreditam nessa mentira, até ao momento em que essa mentira lhes der ainda um minímo de jeito para a sua vida do dia a dia. No dia em que isso deixar de acontecer e já não falta tempo nenhum, o grande aldrabão vai-nos deixar a todos a pensar como foi possível acreditar que a política é feita de mentira.

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