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terça-feira, dezembro 01, 2009

Do Desemprego e das Preocupações dos Políticos Algarvios

Ultrapassamos em Outubro de 2009, a barreira dos dois digitos, nos números do desemprego em Portugal (10,2%). O número já é superior à média do desemprego da União Europeia e estamos em quinto lugar no conjunto dos países com mais desemprego, na UE, a 27. O Algarve atinge o maior volume de desemprego da sua história e o panorama futuro não é nada animador. Mas pasme se pensa que a preocupação central dos políticos algarvios são os números do desemprego e a precariedade da vida das famílias algarvias. Não, não é. A preocupação central é agora a (in) segurança. Jornalistas acríticos e sensacionalistas, políticos de todas as cores, opinion makers locais de algibeira e todos os que têm acesso aos meios oficiais de dizer alguma coisa, aproveitam para partilharem o seu susto, com o resto das almas do Algarve. Como em muitas outras situações, a "boa gente" reage às consequências, já que as causas, essas, são provavelmente da responsabilidade de cada desempregado que terá certamente a culpa da situação em que se encontra. De nada serve dizer à minha gente que as estatísticas (sempre diabolizadas) dizem que Portugal é dos países mais seguros do mundo. De nada serve dizer à minha gente que as causas estão provavelmente na hecatombe do desemprego. A minha "boa gente" fica assustada com a pobreza, com a crescente e saudável diferença social e cultural e com o caos "naturalmente" inerente ao desenvolvimento da cidade e do concelho. Era bom que se encomendassem estudos sobre o fenómeno da "insegurança" rigorosos no Algarve. Podia ser que se evitasse de dizer tanto disparate de senso comum. É que há muitas diferenças entre a criminalidade "objectiva", a percepção subjectiva de insegurança, a fabricação mediática da "insegurança social" e o pavor político de meia dúzia de elites que se pensam esclarecidas e produzem discursos a partir de meia dúzia de casos de maior força mediática. Quando soubessemos claramente do que estamos a falar quando falamos de "insegurança" ganhariamos todos com isso. Para não andarmos todos a falar no vazio. Voltaremos provavelmente ao problema. É que o Correio da Manhã já existe há dezenas de anos.

5 comentários:

  1. Com espanto meu ouvi o primeiro Ministro dizer que, se não fosse as medidas levadas a cabo pelo Governo seria muito pior. Em que ficamos, tomar medidas para os tais 150.000 empregos prometidos ou muito mais desemprego? Quanto maior a miséria de um país mais "insegurança" haverá e ninguém gosta de passar fome, não é com bancos alimentares que o problema se resolve. É, continuamos a brincar às caridadezinhas.

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  2. É um facto: o desemprego provoca um aumento da criminalidade. E actualmente as empresas, e o próprio Estado, estão a esquecer o papel social que deviam ter especialmente em tempos difícies. Há mínima diminuição dos lucros surge de imediato o despedimento. Estou a lembrar-me, por exemplo, com o que aconteceu na Corticeira Amorim. O homem considerado o mais rico de Portugal não podia suportar a redução dos lucros da sua empresa...E despediu!!!
    Mas também considero que deve existir preocupação com o aumento da criminalidade. Especialmente a violenta. E não acredito, que a criminalidade violenta, seja oriunda de desempregados mas sim de indivíduos bem organizados e, sejamos realistas, grande parte deles, estrangeiros. Encontraram em Portugal um manancial de facilidades e, por isso, é importante as autoridades estarem atentas ao fenómeno para não corrermos o risco de deixar de ser um dos países mais seguros do mundo...

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  3. Concordo Jorge que é preciso estar atento. Outra coisa diferente é a paranoia securitária que facilmente se instala e que apela a que sejamos todos filmados em todo o lado. Em nome dos votos...

    Abraço
    João Martins

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  4. Boas João, estas questões tão badaladas sobre a segurança, traz-me sempre à memória a obra "Vigiar e Punir" de Michel Foucault.
    O discurso sobre insegurança, quando adulterado, mais não faz do que abrir caminho para um processo de vigilância e punição cada vez mais rígido tutelado pelo Poder vigente, castrando cada vez mais a liberdade individual de cada um de nós. A vídeo-vigilância é disso um perfeito exemplo.

    A punição e a vigilância são poderes destinados a sensibilizar/educar (adestrar) as pessoas para que essas cumpram normas, leis e exercícios de acordo com a vontade de quem detém o poder.

    Abraço amigo

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  5. Olá Ricardo,

    Ora aí está onde quero chegar. Já agora se me permites sugiro a leitura de "Confiança e medo na cidade" de Zigmund Baumam". Um pequeno livro que explica muito bem o "pavor" que por aí anda.

    Abraço
    João Martins

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