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terça-feira, agosto 04, 2009

Castrações democráticas

Mais de dez anos depois de o ter lido pela primeira vez, estou a reler, 1984, de George Orwell. Numa época em que a sociedade vigilante caminha a passos largos e em que as bases de dados genéticas, os chips nas matriculas dos automóveis e as câmaras de vígilância substituem o olho de Deus lá nos céus, este deveria ser um livro de leitura obrigatória. Orwell descreve uma sociedade totalitária onde a polícia do pensamento persegue implacavelmente os crimes de pensamento. Que ninguém ouse pensar a minima coisa contra o Grande Irmão sob pena de hipotecar o seu presente e o seu futuro.

Esta semana Hugo Chávez, o ditador da Venezuela, qual Big Brother em 1984, decidiu fechar algumas das rádios e televisões privadas do seu país. O argumento é sempre o mesmo. O perigo de descredibilização das instituições do Estado e portanto de ameaça à ordem social. Os ditadores nunca gostaram da liberdade de opinião. Gostam e muito das opiniões que reforçam o seu poder. A opinião livre e sem cortesias de quaisquer espécie é hoje em dia mal amada. Mesmo nos regimes ditos democráticos.

Também esta semana a ERC saiu cá para fora com uma directiva que quer impedir que os candidatos a eleições tenham "visibilidade" mediática. Os responsáveis pela ERC ou não sabem o que é viver numa sociedade mediática, ou têm dificuldades em lidar com ela. A partir de agora as opiniões pesam-se como as gramas de farinha em cima de uma balança. Mais de trezentas gramas e não há direito de opinião. A democracia já teve melhores dias.

Por último, na semana que agora terminou, também o doutor Bota, opinou numa das monopolizadas politicamente colunas de opinião da região Algarvia (com todo o direito que a constituição lhe confere) e deu a entender estar incomodado com os portugueses. Sobretudo com os portugueses que têm opinião. Os portugueses não gostam dos políticos. O doutor Bota está zangado com os malditos portugueses que não gostam dos políticos. Para o Doutor Bota parece haver opinião a mais na sociedade portuguesa. Diz o doutor Bota que nós os portugueses "somos, para a política, como para a bola ou a justiça, um povo de treinadores de bancada, de doutos opinadores sobre tudo e o seu contrário, de juízes implacáveis com os deslizes dos outros". O doutor Bota não gostou do inquérito de opinião do Reader's Digest que concluíu que Portugal é o pais que mais desconfia da sua classe política. Eu do que não gostei foi do artigo de opinião do doutor Bota. Se o doutor Bota quer emitir opiniões (e, neste caso específico, até se trata de uma má opinião) de livre e espontânea vontade, tem que admitir que os outros seres humanos têm direito a fazer a mesma coisa que o doutor Bota. Porque acha que não devem os portugueses opinar doutor Bota? Não se fez a democracia precisamente para acabar com o terror do pensamento único? Haverá democracia sem direito e liberdade de opinião, mesmo quando se trate de uma má opinião? É por estas e por outras, que sendo eu um regionalista convicto, tenho muito medo dos regionalistas que por aí andam. É que sem a valorização da opinião pública, mais vale não se fazer a regionalização. A bem de todos nós.

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