A minha Lista de blogues

sexta-feira, maio 01, 2009

Trabalho Digno ou Empresario-de-Si-Mesmo?

O dia 1º de Maio é festejado em quase todo o mundo como o dia do trabalhador. No dia 1 de Maio de 2009, quando o milénio ainda faz a aprendizagem da sua curta vida, não há grandes razões para festejar a evolução que o trabalho vai tendo no que às conquistas sociais e laborais diz respeito.

Costumo utilizar uma classificação redutora para classificar o mundo do trabalho da Era do Capitalismo Flexível. Por um lado, temos os que morrem e deprimem sem trabalho, do outro lado, os que morrem e deprimem a trabalhar.

De um lado, os trabalhadores ditos do "conhecimento" da Era da Sociedade em Rede e da Informação, altamente qualificados, bem preparados, "empreendedores", "adaptáveis", "flexíveis", com facilidade nas "reconversões" e na resposta às cada vez mais frequentes "deslocalizações" e dotados de elevada "empregabilidade", mas nem por isso imunes a serem "dispensados". Do outro lado, uma massa enorme de vulnerabilizados, mal pagos, com fracas qualificações, com tarefas de rotina (mesmo no sector terciário), pouco "adaptáveis" às necessidades do mercado capitalista global, com uma "polivalência" e uma "flexibilidade" que navega dentro de um mundo altamente precário e que vive (melhor dizendo, sobrevive) nas portas de entrada da miséria do mundo.


A Era do precariado é uma Era em que o futuro ficou hipotecado. O precariado não tem direito à saúde, a férias, a protecção social, a nada. O precariado não pode, há semelhança da geração dos seus pais, sonhar com a compra da casa, comprar carro, construir um lar. O horizonte do precariado, é o aqui e agora. O trabalho na Era do precariado corrói o carácter. Para existir no mundo laboral, o precariado tem que se vender a si próprio e tem que aceitar como "natural" viver numa instabilidade perene e permanente.

Nas últimas décadas assistimos ao aumento das formas atípicas de trabalho; trabalho a recibos verdes, trabalho a tempo parcial, trabalho temporário, trabalho por norma precário (muito dele ilegal e alimentado pelo próprio Estado) e mantiveram-se os salários baixos e o trabalho desqualificado de forma a que é possível um terço dos trabalhadores em Portugal fazerem parte do retrato dos quase 20% de pobres existentes neste rectângulo à beira mar plantado.

Surgiram os precários inflexíveis, que para além de terem o atributo de serem jovens, são, em geral, altamente qualificados e são obrigados a viver o dia a dia de trabalho sem o minímo de condições e de dignidade e sem quaisquer capacidade de construir um destino social futuro minimamente condigno.

Da Era do trabalho com direitos, tipíca do paradigma Taylorista-Fordista, enquadrada pela protecção social do Estado Providência e da contratação colectiva, em que os sindicatos eram parceiros sociais legitimados pelo contrato social da época, passámos, no contexto do capitalismo flexível, à Era do trabalhador "empresário-de-si-mesmo", responsável e responsabilizado individualmente pela sua "empregabilidade", pela sua "aprendizagem ao longo da vida" e pelo desenvolvimento das suas "competências" permitindo esta nova ideologia a demissão do Estado e dos colectivos sociais na defesa dos interesses dos trabalhadores e dos seus direitos e a sua desresponsabilização da hecatombe do novo milénio, que é o desemprego em massa. Os sindicatos, para além da sua crescente fragilidade e perca de poder, devido em grande parte à própria evolução dos sistemas e das relações de trabalho, passaram a ser olhados, no mínimo, com desconfiança, pelos governos (veja-se como trata este governo PS os sindicatos).


O desemprego massivo, passou a ser encarado numa lógica neoliberal, como "natural" e em certos casos como "necessário" e "indispensável" para que a economia, num primeiro momento da sua evolução "cresça" para que depois a riqueza criada possa ser "redistribuída" pela sociedade. Esta falácia, como todas as falácias deste tipo,tem servido sempre os mesmos, precisamente aqueles que nos levaram à crise mundial e que agora não largam o poder e não têm nem a vontade, nem a capacidade para a resolver. O exército de reserva do sistema capitalista já tinha sido detectado por Marx como um instrumento do capital indispensável à manutenção de um baixo custo da mão de obra e à geração de mais valias.

Mas nem tudo são evoluções negativas, nesta história do trabalho dos últimos anos, as mulheres conquistaram por direito próprio a entrada massiva neste universo. Elas continuam em desvantagem e a serem muito mais discriminadas do que eles no mundo laboral, mas o género do trabalho nunca mais ficará como dantes. Mais do que nunca, as razões para festejar o Maio estão em cima da mesa. Tal como para Abril, adormecer em cima da evolução dos acontecimentos é um passo para acordar tarde dos processos de regressão social.É que, ao contrário do que muita gente possa pensar, a "evolução" societal não é de sentido único e são os homens e as mulheres com os seus actos diários que lhe indicam a direcção.

Sem comentários:

Enviar um comentário