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sexta-feira, maio 29, 2009

Ele anda por aí...

O MEDO

O medo,
Um gato preto emergindo da sombra,
espera
nos aposentos dos homens.
(Não o verás entrar, não ouvirás as suas passadas).

O medo, apenas o medo,
com os seus agudos
intermináveis dentes gelados
roendo nos ossos,
ferindo
as nossas carnes assustadas,
o sangue,
sugando, o putrefacto sangue.

Oh, os aposentos dos homens!
quatro paredes,
o tecto,
a janela e a porta
para o vazio...

E lá dentro - oh tempo mal-amado! -
(não o verás entrar, não ouvirás as suas passadas)
um golpe surdo, um engolir,
silêncio, nada...

FRANCISCO PÉREZ-MARICEVICH

Francisco Pérez-Maricevich nasceu em Assunção, no Paraguai em 1937. É poeta, ensaísta, romacista, jornalista e crítico literário. É licenciado em Filosofia e Letras, professor de Literatura em vários escolas secundárias e universidades em Assunção. Francisco Pérez-Maricevich contribuiu com importantes trabalhos no campo da investigação do bilinguismo (espanhol-guarani) na Bolívia. O seu legado poético inclui os livros de poemas Axil (1960), Paso de hombre (1963), Coplas (1970) e Los muros fugitivos (1983). Não existem livros do autor traduzidos em Portugal.
http://casadospoetas.blogs.sapo.pt/31221.html

4 comentários:

  1. O medo é um sentimento que nos gela e nos impede de dar um passo em frente ...!

    Um Abraço da M&M & Cª!

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  2. Olá! boa noite.
    Bem oportuno este poema, o medo é
    um sentimento difícil de descrever
    e eu sinto que tenho medo!...
    No meu local de trabalho, estou constantemente atenta!...
    E não me digam que é mentira!..
    maria.

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  3. Meu caro João Martins,

    não resisti em postar este poema de Alexandre O’Neill a propósito do medo!


    POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO

    O medo vai ter tudo
    pernas
    ambulâncias
    e o luxo blindado
    de alguns automóveis

    Vai ter olhos onde ninguém os veja
    mãozinhas cautelosas
    enredos quase inocentes
    ouvidos não só nas paredes
    mas também no chão
    no tecto
    no murmúrio dos esgotos
    e talvez até (cautela!)
    ouvidos nos teus ouvidos

    O medo vai ter tudo
    fantasmas na ópera
    sessões contínuas de espiritismo
    milagres
    cortejos
    frases corajosas
    meninas exemplares
    seguras casas de penhor
    maliciosas casas de passe
    conferências várias
    congressos muitos
    óptimos empregos
    poemas originais
    e poemas como este
    projectos altamente porcos
    heróis
    (o medo vai ter heróis!)
    costureiras reais e irreais
    operários
    (assim assim)
    escriturários
    (muitos)
    intelectuais
    (o que se sabe)
    a tua voz talvez
    talvez a minha
    com certeza a deles

    Vai ter capitais
    países
    suspeitas como toda a gente
    muitíssimos amigos
    beijos
    namorados esverdeados
    amantes silenciosos
    ardentes
    e angustiados

    Ah o medo vai ter tudo
    tudo

    (Penso no que o medo vai ter
    e tenho medo
    que é justamente
    o que o medo quer)

    O medo vai ter tudo
    quase tudo
    e cada um por seu caminho
    havemos todos de chegar
    quase todos
    a ratos

    Sim
    a ratos

    Alexandre O’Neill

    Nós fazemos parte daqueles que não tem medo.

    Um abraço fraterno,

    Umbelina

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  4. Amiga Umbelina,

    Bons ventos a tragam. Sinto-me na obrigação de passar o seu poema a post.

    Um grande abraço!
    João Martins

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