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quinta-feira, fevereiro 05, 2009

A Cabala de Sócrates

É preciso afirmá-lo, sem populismo nem demagogias. A tese da cabala, da campanha negra e dos poderes ocultos, trazida a terreiro, pelo primeiro ministro José Sócrates, é um dos momentos mais negros de toda a história da democracia portuguesa.

Ao lançar um manto de suspeição sobre todos os orgãos de comunicação social e a categoria socio-profissional dos jornalistas. Ao lançar um manto de suspeição sobre a procuradoria geral da república, o magistério público e a polícia de investigação criminal. Ao lançar a suspeição generalizada sobre a seriedade dos partidos políticos da oposição, Sócrates prestou um péssimo serviço ao país e à credibilidade das instituições democráticas. Nunca, um primeiro ministro, tinha contribuido tanto para a desligitimação da crença no regime da democracia, como o actual secretário geral do partido socialista português.

A Sócrates, aos portugueses e à democracia portuguesa, só interessava o apuramento da verdade dos factos e para isso as declarações do senhor primeiro ministro pouco ou nada contribuiram. É ao poder judicial que cabe agora fazer a justiça do caso. Até prova em contrário, ninguém pode ser condenado e muito menos na praça pública. Outra questão é a suspeição que os factos já revelados levantam e esses os cidadãos portugueses têm o direito e a obrigação de quererem ver escrutinados até às últimas consequências, doa a quem doer, não olhando a estatutos e privilégios.

Mas vamos aos factos, porque contra factos não há argumentos:

1. Existe uma carta rogatória da polícia inglesa que refere explicitamente o primeiro ministro Sócrates como estando sob investigação e suspeito de ter solicitado, recebido ou facilitado, pagamentos, que constituem crimes, indicados em anexo nessa mesma carta. Isto é um facto incontornável, não é nenhuma cabala.

2. Existem e-mails que referem pagamentos destinados a obter favores em relação a um estudo de impacte ambiental e a protocolos necessários à aprovação do Freeport. Mais uma vez são factos nunca desmentidos por ninguém. Portanto aqui não há poderes ocultos.

3. Existe um tio de José Sócrates que deu uma entrevista passada na TV e que refere explicitamente que alguém se queixava de lhe estarem a pedir vários milhões de euros para a aprovação do empreendimento. Esse mesmo tio assumiu ter feito de intermediário e lamenta ainda ter sido esquecido na recompensa pela facilitação do contacto entre os intervenientes. Isto é um facto, o tio afirmou isto. É claro que faltará sempre a comprovação do facto. Mas até aqui não vejo nenhuma campanha negra, a não ser que seja, do tio de José Sócrates.

4. Existe um primo de Sócrates que enviou um e-mail à Freeport a pedir o favor desta empresa no estabelecimento de negócios da sua empresa invocando o nome de José Sócrates. Este mesmo primo, partiu para a China para tirar um curso de artes marciais, num contexto em que o seu esclarecimento era essencial para a resolução do caso e a prestação desses esclarecimentos do interesse temporal do senhor primeiro ministro. Isto é um facto, não é nenhuma cabala.

5. O licenciamento do Freeport e a alteração da ZPE do estuário do Tejo foram realizados em tempo recorde, com demasiadas coincidências e num governo de gestão, poucos dias antes de o governo de Guterres perder o poder. Mais uma vez factos atípicos e nenhuma cabala.

6. Muitas outras zonas de suspeição os media têm posto a nú e seria preciso acreditar que a TVI, a RTP, a SIC, a revista Visão e a Sábado, o Correio da Manhã, o Público, o Diário de Notícias, o Expresso e o Sol, se teriam aliado com a polícia portuguesa e a polícia inglesa, os orgãos de justiça criminal, o PCP, o Bloco de Esquerda, o PSD e o PP, para que tudo não passasse da mais admirável cabala jamais concertada em tempo algum.

7. Sócrates preferiu a tese da cabala e dos poderes ocultos e ao fazê-lo seguiu o pior dos caminhos para o seu próprio interesse, para o interesse dos portugueses e para o interesse da democracia portuguesa.

Acredite quem queira acreditar, o regime democrático, vive uma das suas piores crises morais desde a revolução dos cravos. Os principais protagonistas persistem em não querer ver. Um dia poderá ser tarde de mais.

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