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quarta-feira, julho 02, 2008

Da radioactividade e da poluição tóxica: Por mar somos todos espanhóis

Da contaminação do ar, do mar e do solo. Algarvios de Huelva?



Há quase dez anos atrás fiz umas mini-férias na vizinha Andaluzia e fiquei instalado em Huelva, de onde partia e voltava todos os dias, no intuito de melhor conhecer o Sul de Espanha e a nossa vizinha Andaluzia.
O que mais me marcou nessas férias foi um maravilhoso passeio a pé pelo parque Donana, em que, após alguns kilómetros percorridos, expectante em relação à maravilhosa praia que provavelmente iria encontrar no final do percurso, deparo-me com um cenário dantesco, numa praia de enorme extensão, completamente desabitada, com restos de sacos de plástico de produtos químicos e outros que tais, espalhados por todo o areal, e com a água em muito pior condição do que a água do rio onde Marcelo Rebelo de Sousa se deliciou em banhos há alguns anos atrás.

A menos de cinquenta quilómetros da costa algarvia, aqui mesmo ao lado, temos um complexo quimíco e indústrial gerador de níveis de contaminação dos mais elevados do mundo.

Alguém já pensou no peixinho fresco que saboreamos pescado em "águas portuguesas"? Sugiro um passeio pela zona de Huelva em direcção ao litoral espanhol para que possam ver com os vossos próprios olhos. É simplesmente assustador. Estamos perante um grave problema de saúde pública que só Deus sabe as consequências que já teve para a população do sul da Ibéria.

Fica aqui a notícia retirada do Jornal do Algarve desta semana:

Ameaça radioactiva às portas do Algarve

"Uma vizinhança demasiado perigosa! É assim que se poderia definir a situação… São apenas sessenta os quilómetros que separam o Algarve de um dos ambientes mais contaminados da Europa e do mundo. Junto à cidade de Huelva, onde vivem 150 mil pessoas, há um verdadeiro cemitério de detritos de indústrias químicas, a céu aberto, que apesar dos alertas continua a passar quase despercebido, com todas as consequências que isso implica!
Naquela que já foi uma das praias mais emblemáticas do sul de Espanha, em Punta del Sebo, a escassos 500 metros da cidade de Huelva, encontra-se actualmente um enorme pólo industrial – com fábricas de resíduos químicos, pasta de papel, centrais termoeléctricas, fundições de cobre e refinarias de petróleo – onde se lida diariamente com substâncias altamente cancerígenas e radioactivas. “Durante anos foram libertados para os rios e para o ambiente milhões de toneladas de resíduos muito perigosos, que constituem um grave problema para a saúde das pessoas. E isso continua hoje em dia sem que as autoridades espanholas façam algo para o impedir”, revela ao Jornal do Algarve Bejarano Cristo, porta-voz da plataforma Mesa de la Ría, um grupo composto por cerca de 30 associações, partidos políticos, sindicatos e movimentos cívicos da região da Andaluzia.
Juntamente com a Greenpeace, a Mesa de la Ría tem vindo a denunciar e a lutar pelo “encerramento imediato” das indústrias químicas em Huelva. “Actualmente, já não restam dúvidas de que este complexo industrial está na origem de milhares de casos de cancro que surgiram na região nos últimos anos. O caso é tão grave que Huelva já é a cidade com a maior taxa de incidência de cancro de toda a Europa”, alertou Bejarano Cristo.

Mortalidade ligada ao cancro é 25 por cento superior à média

Diversos estudos e análises realizadas ao longo dos últimos anos, levadas a cabo por diversas entidades independentes, como a Universidade de Granada e Barcelona, têm revelado que os resíduos tóxicos e cancerígenos têm atingido níveis de radiação que chegam a ser 110 vezes superiores aos valores legais!
O estudo universitário de Barcelona revela mesmo que a taxa de mortalidade devido ao cancro na região da Andaluzia é 25 por cento superior à média. Além disso, foram detectadas quantidades muito elevadas de enxofre e arsénico no ar e nos rios Odiel e Tinto, que desaguam no Atlântico.
“Mesmo sem estes estudos alarmantes, consideramos que o que está à vista de todos já é suficientemente grave e que deveriam ser tomadas medidas urgentes. Mas a indústria química é muito poderosa e tem conseguido abafar o problema”, lamentou o porta-voz da Mesa de la Ría.
Apesar disso, a plataforma andaluza e o Greenpeace conseguiram nos últimos dois meses chamar a atenção do mundo para o excesso de radioactividade que se verifica em Huelva e nos seus arredores. Depois de confirmar a ocorrência de diversos acidentes ecológicos nos últimos anos, a própria Comissão Europeia também já perdeu a paciência e exige às empresas de Punta del Sebo que parem de poluir o ambiente com as suas descargas de resíduos químicos e metais pesados.
No passado mês de Maio, Bruxelas pediu mesmo ao governo espanhol explicações sobre a situação e exigiu “a tomada de medidas para prevenir mais violações do meio ambiente”. Entretanto, perante a gravidade do caso, a União Europeia decidiu ir mais longe e avançou recentemente com um estudo para apurar os factos e garante que tomará uma posição final até ao final de 2008.

"Maior catástrofe ambiental à escala mundial"

Uma das empresas que está na “lista negra” dos ambientalistas e da população de Huelva, onde começa a existir uma forte aliança das pessoas contra as indústrias químicas, é a Fertiberia, que há cerca de oito meses apresentou um plano de encerramento. Segundo este plano, a companhia – cujas instalações distam apenas 500 metros da cidade – propôs acabar com a sua actividade de forma gradual em Huelva, num período de 10 anos. No entanto, o governo espanhol e a União Eu-ropeia consideram que esse tempo é demasiado excessivo e estão a pressionar a empresa para encerrar até 2011.
Mas há mesmo quem defenda o “fim imediato” das descargas poluentes das indústrias químicas na região, apesar destas darem trabalho a milhares de pessoas. “Estas agressões ambientais são absolutamente intoleráveis, pois afectam gravemente a saúde e o ambiente”, tendo já sido classificada na Europa como “a maior catástrofe ambiental à escala mundial”, frisou Bejarano Cristo.
Entre as substâncias radioactivas detectadas em altos níveis de concentração no local, encontram-se o urânio 238 e 235, o polónio 210 (que vitimou o ex-espião russo Alexander Litvinenko), o rádon 222 ou ainda o rádio 226.

"Zona da morte"

Porém, os movimentos cívicos e a população parecem que estão a perder a “guerra” contra as 21 indústrias presentes em Huelva, que se agruparam numa poderosa Associação das Indústrias Químicas e Básicas de Huelva. “Eles transformaram a nossa terra numa zona da morte. As taxas de cancros são tão elevadas que não deixam dúvidas quanto à responsabilidade das indústrias neste caso. Por isso, esperamos que o estudo que está a ser liderado pela União Europeia traga resultados brevemente para podermos parar com esta mortalidade”, referiu o responsável.
O Jornal do Algarve tentou ao longo da semana contactar a Junta da Andaluzia e a associação que reúne as indústrias químicas de Huelva. Ambas mostraram-se pouco interessadas em fazer declarações à imprensa, tendo pedido que enviássemos as perguntas por escrito através de e-mail, sem garantias de resposta atempada, o que devido aos prazos não foi possível atender. Ainda assim, uma responsável da Associação das Indústrias Químicas e Básicas de Huelva adiantou que não tem conhecimento de qualquer estudo europeu em curso no local. Mas o nosso jornal sabe que, até ao final deste ano, a UE vai mesmo tomar uma posição sobre esta matéria que está a alarmar cada vez mais a população.
O pior é que, como revela o porta-voz da plataforma Mesa de la Ría, “mesmo que fechem já hoje as fábricas de uma vez por todas, os seus efeitos negativos ainda persistirão por muitos e muitos anos, pois há décadas que andam a libertar substâncias tóxicas e mortais para o meio ambiente”.

in http://www.jornaldoalgarve.pt/artigos.aspx?id=7933

2 comentários:

  1. Um cenário dantesco próprio do capitalismo selvagem que assola quase todo o mundo.
    A contaminação por poluição de metais além de aumentar a incidência de tumores hepáticos e de tiróide, provoca alterações neurológicas, dermatoses, rinites alérgicas, disfunções gastrointestinais, pulmonares e hepáticas.
    Se fosse evitada tanta poluição a diminuição das despesas com as doenças daria para se viver num mundo melhor mas o desejo do lucro, cada vez maior, no tipo de sociedade em que vivemos actualmente sobrepõe-se a tudo o resto. A Terra, melhor gerida, reduzaria as doenças e acabaria com a fome no mundo. Mas a ganância é cada vez maior e, quase diria, que o papel social que algumas empresas tinham e, em especial o Estado, já não mais existe. Actualmente só o lucro interessa.

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  2. Fundo do mar

    No fundo do mar há brancos pavores,
    Onde as plantas são animais
    E os animais são flores.

    Mundo silencioso que não atinge
    A agitação das ondas.
    Abrem-se rindo conchas redondas,
    Baloiça o cavalo-marinho.
    Um polvo avança
    No desalinho
    Dos seus mil braços,
    Uma flor dança,
    Sem ruído vibram os espaços.

    Sobre a areia o tempo poisa
    Leve como um lenço.

    Mas por mais bela que seja cada coisa
    Tem um monstro em si suspenso.



    Sophia de Mello Breyner Andresen
    Obra Poética I

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