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quinta-feira, julho 31, 2008

No Tempo da Velha Senhora: Proibido Massagens na Praia

Das massagens na praia...

...sabemos como é que começa...



...nunca sabemos como é que acaba...



Os novos empresários da moral para além de lhes repugnar as massagens na praia também proibiram o poluente Wind Surf na Ria Formosa...dos PIN é que nem uma palavra...

Consulte a notícia aqui
http://www.correiodamanha.xl.pt/noticia.aspx?channelid=00000021-0000-0000-0000-000000000021&contentid=FB63FF70-E5B0-4F91-ACF5-30BF71E41F03

quarta-feira, julho 30, 2008

O ethos ambiental do ministro do Ministério do Ambiente

Foto: Construção a poucas dezenas de metros das dunas - Concelho de Loulé.

Clique em cima da foto para ampliar a imagem.

Há poucos anos atrás o presidente da Associação Nacional dos Munícipios disse em voz alta aquilo que pensam quase todos os autarcas das paróquias de Portugal. Sugeriu Fernando Ruas que "se corresse com os fiscais do ambiente à paulada".

Desta vez, foi o invisivel e transparente Ministro do Ministério do Ambiente (há que distinguir entre Ministro do Ambiente e Ministro do Ministério do Ambiente), numa entrevista histórica ao Expresso de 26 de Julho de 2008:

Diz o Ministro PIN, de seu nome Francisco Nunes Correia,

"Por vezes, as associações ambientalistas usam tácticas que infundem terror às populações e por isso prestam um mau serviço ao país (...)"

"(...) tenho o maior respeito pelos ambientalistas. As associações colocam-se mais do lado do problema do que do lado da solução".

Nunca, em tempo algum, o ataque despudorado às já frágeis associações ambientais em Portugal tinha partido do próprio Ministro do Ministério do Ambiente.

Viva aos PIN, viva às Quintas das Ombrias, viva a construção em cima das dunas, vivam os russos que querem construir dentro da Ria Formosa, viva o Ministro PIN.

Pode consultar a entrevista em:
http://aeiou.semanal.expresso.pt/1caderno/pais.asp?edition=1865&articleid=ES298167

terça-feira, julho 29, 2008

J'accuse: O Algarve saqueado... sem pudor e sem vergonha

Foto: Construção a poucos metros das dunas - Concelho de Loulé

Magnífico texto de Miguel Sousa Tavares no Expresso de 26 de Julho de 2008 sobre a vergonha em que se tornou o (des) ordenamento do território do Algarve.

"(...) Mas foi Lagos, claro, a primordial e mais duradoura das minhas paixões. Tudo o que eu possa escrever sobre a fantástica beleza da cidade caiada de branco, com ruas habitadas por burros e polvos secando ao sol pregados aos muros, uma gente feita de dignidade e delicadeza, praias como nenhumas outras em lado algum do mundo, a terra vermelha, pintada de figueiras e alfarrobeiras, prolongando-se até às falésias que ficavam douradas ao pôr-do-sol, enquanto as traineiras passavam ao largo em direcção aos seus campos de pesca nocturnos, tudo isso parece hoje demasiadamente belo para que alguém possa simplesmente acreditar. Se eu contasse, diriam que menti - e eu próprio, olhando hoje Lagos, também acho que seguramente foi mentira. A partir de Lagos, fui descobrindo todo o barlavento algarvio, cuja luz é tão suave que parece suspensa, como se não fizesse parte do próprio ar. Descobri a solidão agreste de Sagres, onde se ia aos percebes ou apenas olhar o mar do Cabo de S. Vicente, na fortaleza, que era rude como o vento e o mar de Sagres, e hoje é uma casamata de betão que, ao que parece, se destina a homenagear a moderna arquitectura portuguesa. Descobri o charme antiquado da Praia da Rocha, onde se ia à noite ver as meninas de Portimão, ou o "souk" em cascata de Albufeira, onde se ia ver as inglesas e dançar no Sete e Meio. E descobri outras terras de pescadores e veraneantes, como Armação de Pêra ou Carvoeiro, praias de areia grossa e mar transparente como eu gosto, cigarras gritando de calor nas arribas, polvos tentando amedrontar-me quando os olhava debaixo de água. Não vale a pena contar. Quem teve a sorte de viver, sabe do que falo; quem não viveu, não consegue sequer imaginar. Porque esse Sul que chegava a parecer irreal de tão belo, esse litoral alentejano e algarvio, não é hoje mais do que uma paisagem vergonhosamente prostituída. Sim, sim, eu sei: o desenvolvimento, o turismo, a balança comercial, os legítimos anseios das populações locais, essa extraordinária conquista de Abril que é o poder local. Eu sei, escusam de me dizer outra vez, porque eu já conheço de cor todas as razões e justificações. Não impede: prostituíram tudo, sacrificaram tudo ao dinheiro, à ganância e à construção civil. E não era preciso tanto nem tão horrível. Podiam, de facto, ter escolhido ter menos turistas em vez de quererem albergar todos os selvagens da Europa, que nem sequer justificam em receitas os danos que em seu nome foram causados. Podiam ter construído com regras e planeamento e um mínimo de bom gosto. Podiam ter percebido que a qualidade de vida e a beleza daquelas terras garantiam trezentos anos de prosperidade, em vez de trinta de lucros a qualquer preço. E todos os anos, por esta altura, percorrendo estas terras que guardo na memória como a mais incurável das feridas, faço-me a mesma pergunta: Porquê? Porquê tanta devastação, tanto horror, tanta construção, tanta estupidez? Tanto prédio estilo-Brandoa, tanto guindaste, tanto barulho de obras eternas, tanta rotunda, tanta 'escultura' do primo do cunhado do presidente da câmara, e sempre as mesmas estradas, os mesmos (isto é, nenhuns) lugares de estacionamento, os mesmos (isto é, nenhuns) espaços verdes? Não, nem mesmo o mais incompetente dos autarcas pode olhar para aquilo e não entender a monumental obra de exaltação da estupidez humana que está à vista. Não, não é apenas incompetência, nem mau gosto levado ao extremo, nem simples estupidez. Em muitos e muitos casos a razão pela qual o litoral alentejano e o barlavento algarvio foram saqueados, sem pudor nem vergonha, tem apenas um nome: corrupção. Acuso essa exaltante conquista de Abril, que é o poder local, de ter destruído, por ganância dos seus eleitos, todo ou quase todo o litoral português. Acuso agora José Sócrates de não ter tido a coragem política de cumprir uma das promessas do seu programa eleitoral, que era a de progressivamente financiar as autarquias a partir do Orçamento do Estado, em exclusivo, deixando de lhes permitir financiarem-se também com as receitas locais do imobiliário - deste modo impedindo que quem mais construção autoriza, mais receitas tenha. Acuso o Governo de José Sócrates de ter feito pior ainda, inventando essa coisa nefasta dos projectos PIN (de interesse nacional!), ao abrigo dos quais é o Governo Central que vem autorizando megaconstruções que as próprias autarquias acham de mais. Acuso esta gente que só sabe governar para eleições, que não tem sequer amor algum à terra que os viu nascer, que enche a boca de palavrões tais como "preservação do ambiente" e "crescimento sustentado" e que não é mais do que baba nas suas bocas, de serem os piores inimigos que o país tem. Gente que não ama Portugal, que não respeita o que herdou, que não tem vergonha do que vai deixar. Eu sei que não serve de nada. Ando a escrever isto há trinta anos, em batalhas sucessivamente perdidas - ontem por uma praia, hoje por um rio, amanhã por uma lagoa. E lembro-me sempre da frase recente de um autarca algarvio contemplando a beleza ainda preservada da Ria de Alvor e sonhando com a sua urbanização: "A natureza também tem de nos dar alguma coisa em troca!". Está tudo dito e não adianta dizer mais nada. Acordo às oito da manhã destas férias algarvias, longamente suspiradas, com o ruído de chapas onduladas desabando, martelos industriais batendo no betão e um pequeno exército de romenos e ucranianos construindo mais um projecto PIN numa paisagem outrora oficialmente protegida. "É o progresso!", suspiro para mim mesmo, tentando em vão voltar a adormecer. Sim, o progresso cresce por todos os lados, sem tempo a perder, sem lugar para hesitações, como um susto. Tenho saudades, sim, dos sustos que os polvos me pregavam no silêncio do fundo do mar. E tenho saudades de muitas outras coisas, como o polvo do mar. Sim, eu sei: estou a ficar velho."

Crónica do Expresso de 26 de Julho de 2008

A vergonha continua...

Ps: Agradeço ao Jorge a chamada de atenção para a publicação desta crónica no Expresso.

segunda-feira, julho 28, 2008

Novamente os PIN: Esses magníficos Planos de Ocupação da Orla Costeira

O Litoral a Saque



Fonte: Foto copiada do blogue A Defesa de Faro

Notícia de hoje do Jornal Público

Russos investem 50 milhões em terrenos da zona de Faro onde não se pode construir

"Os 529 hectares foram adquiridos através da compra de três off shores. Em princípio, nem uma casa lá poderá ser construída, mas os investidores esperam contornar esse obstáculo.

As últimas parcelas de terreno ainda não urbanizadas entre a Quinta do Lago e o aeroporto de Faro estão a ser disputadas a preços especulativos no mercado internacional. Em princípio, os promotores imobiliários pouco ou nada lá poderão construir, mas a lei contempla excepções que alimentam expectativas.

Na perspectiva de vir a desenvolver e ver aprovado um Projecto de Potencial Interesse Nacional (PIN), uma empresa de capitais russos adquiriu nas últimas semanas, por mais de 50 milhões de euros, 529 hectares de pinhal nessa zona, em áreas do pré-parque e do Parque Natural da Ria Formosa.
Os promotores russos compraram uma faixa do litoral que se estende do mar até quase à EN 125, nos concelhos de Faro e Loulé e nas imediações da Quinta do Ludo. Através de um escritório de advogados de Londres, os investidores adquiriram três empresas off-shore que ali detinham outras tantas parcelas, num total de 529 hectares.

Os anteriores proprietários tentaram, ao longo de seis ou sete anos, desenvolver nesses espaços um projecto de turismo residencial e de golfe, mas nunca o conseguiram.

O presidente da Câmara de Faro, José Apolinário (PS), questionado pelo PÚBLICO, admite que possa vir a surgir naquela zona um projecto PIN, que permita ultrapassar as actuais restrições à construção, "desde que seja de interesse concelhio e compatível com a defesa dos valores ambientais em presença". No entanto, diz-se intransigente na defesa da criação de "um parque ambiental no Pontal", um espaço florestal vizinho onde, na semana passada, teve lugar a Concentração Internacional de Motos.

De acordo com o projecto do Plano de Ordenamento do Parque Natural da Ria Formosa, que aguarda aprovação na Secretaria de Estado do Ambiente há mais de seis meses, a zona em causa será "interdita à construção". No quadro legislativo ainda em vigor, há, porém, a possibilidade de urbanizar até três por cento da área, embora com muitas restrições.

Do ponto de vista ambiental, uma das condicionantes à construção na zona é a defesa de uma planta em vias de extinção - a tuberária major, uma herbácea também conhecida como Alcar-do-Algarve. No entanto, já foi aceite uma excepção, e há negócios feitos na perspectiva de que outras possam vir a existir. No ano passado, também junto à Quinta do Lago, foi autorizada a urbanização de um terreno florestal, graças à aprovação de um PIN. Para que ali fosse construído um resort com a marca Hilton, o Governo mandou suspender o Plano Director Municipal de Loulé na área do empreendimento.

Através desta medida, o terreno em causa, com a área de 6,2 hectares, sofreu uma valorização superior a 30 milhões de euros, tendo como referência os valores praticados nos vizinhos Vale do Lobo e Quinta do Lago.
Por outro lado, com a recente entrada em vigor do novo Plano Regional de Ordenamento de Território do Algarve, foram introduzidas novas restrições à construção, sobretudo nas pequenas parcelas, o que tem levado os proprietários a juntar parcelas para atrair o interesse dos grandes grupos. É o que está a acontecer com a entrada de capitais do Leste na zona da Quinta do Lago.

O ministro do Ambiente, Nunes Correia, tem afirmado que a atribuição aos projectos da classificação de Potencial Interesse Nacional não os dispensa do cumprimento das leis do ordenamento. Mas, como os chamados direitos adquiridos têm uma forte presença nos negócios imobiliários do Algarve, há sempre quem esteja disposto a investir e a ficar à espera de uma boa oportunidade.
Os capitais vindos de Leste parecem estar a liderar este tipo de operações. O dinheiro, geralmente, tem apenas o rosto de um escritório de advogados, não chegando a ser conhecida a sua real proveniência."
Público, 28.07.2008, por Idálio Revez

O país está a saque. Agora, primeiro compra-se o terreno (mesmo que seja reserva ecológica nacional) e depois é só tratar de "contornar os obstáculos". A maior parte dos políticos, esses, mais não passam do que meros instrumentos ao serviço dos grandes interesses do capital. E que jeito lhes dá...

Afinal, João Cravinho depois não dá lições a ninguém não é?

Começo a sentir enjoos desta forma de fazer política e regionalização nem quero ouvir falar nela.

Convençam-me do contrário...


domingo, julho 27, 2008

Regresso ao passado: A minha Escola Primária

A Escola "paga" da Dona Dorila



Foi nesta escola que fiz a escolaridade "primária" da altura. Tal como eu, gerações inteiras de residentes e naturais de Loulé aqui deram os primeiros passos na arte do ler, escrever e contar.

Enquadrada, como não podia deixar de ser, na Escola Primária do Regime Salazarista, aqui era privilegiada a socialização para a obediência, para a disciplina e para a reprodução das hierarquias sociais.

Não havia trabalho de grupo, não havia quaisquer tipo de interacção com a comunidade envolvente, não havia a miníma preocupação com o desenvolvimento da criatividade, eram muito pouco trabalhadas as competências sociais.

As competências cognitivas centradas sobre a leitura, a escrita e o cálculo eram o móbil principal do acto pedagógico.

O jogo escolar, pergunta da professora, resposta dos alunos, tinha que ser jogado na perfeição, com o domínio total das regras. Após a pergunta, braço no ar, esperar pacientemente pelo sinal de aprovação da professora e dotado da certeza (absoluta) da resposta certa, avançar com a "boa" resposta. E era bom que os pupilos avançassem com a resposta esperada, senão lá vinha de imediato a sansão (reguada incluído).

Dentro daquilo que foi o sistema de ensino da época, a Dona Dorila foi uma professora de eleição. Ainda tentou em carta ao Ministério responsável, que eu passasse da Terceira para o Ciclo, carta que veio com resposta negativa do dito cujo. Ouve quem melhor sorte tivesse em anos anteriores.

A minha sincera homenagem a uma professora que foi de um profissionalismo inexcedível e detentora de um verdadeiro sentido missionário.

Ps: Frequentei esta escola dos seis aos dez anos de idade. Entre 1976 e 1980. Era o fim do Regime Salazarista e a génese da Democracia Portuguesa. A reforma de Veiga Simão começava a chegar às escolas.

sábado, julho 26, 2008

Naturalizar a precarização do trabalho

Sócrates e Louçã sobre o Novo Código do Trabalho

Debate Quinzenal na Assembleia da República

Abril de 2008

Quando a noite começa às 22 horas...




Do direito de resposta...declarada guerra à esquerda...



O anúnciado combate à precaridade

"Os outorgantes do "acordo", e o governo em especial, têm-se esforçado para legitimar as suas propostas mediante o pretexto do combate ao trabalho precário. Na substância, tal ideia não resiste a uma análise minimamente cuidada.
Em primeiro lugar, qualquer português sabe que o tempo de duração dos contratos a termo não depende do prazo fixado na lei, que não é minimamente cumprida. Neste sentido, mantendo-se a ineficácia da Inspecção-Geral do Trabalho(IGT), a redução de 6 para 3 anos não terá nenhum efeito prático.
Em segundo lugar, a fixação de uma taxa para "punir" os recibos verdes constitui uma forma de os legalizar, porquanto, das duas uma: ou os "recibos" titulam um contrato de prestação de serviço ou escondem um contrato de trabalho. Se escondem um contrato de trabalho, o patrão deve pagar não 5 por cento mas a taxa integral, reconhecendo-se o vínculo laboral adequado.
Não é isto que o "acordo" preconiza, tanto mais que em matéria de meios para fazer cumprir a lei é curto, muito curto mesmo.
Entretanto, os patrões recebem um bónus muito importante, a este pretexto, traduzido na redução da taxa social única em um ponto percentual, no que constitui uma medida de difícil explicação por um governo que acabou (no ano transacto) de reduzir as pensões dos portugueses fundamentado-se na falta de receitas da Segurança Social.
Como se vê, a coerência e a fiabilidade não são o forte do governo de Sócrates."

Ps: O despedimento por inadaptação (inaptidão) foi retirado da proposta inicialmente apresentada pelo governo.

Por Joaquim Dionísio
In Le Monde Diplomatique, pág. 24.

sexta-feira, julho 25, 2008

Memória Ambiental da Cidade de Loulé: Paradoxo Ambiental

Entre o abate de árvores...

...e a recolha e separação de resíduos.

Pôr fim à vida da árvore...



Em nome da recolha e separação do lixo...



Seria mesmo necessário?

quinta-feira, julho 24, 2008

Reinventar a esquerda: Acabar com as vozes dos meninos de coro


Ainda há esquerda dentro das «esquerdas»

Jornal Público, 22/07/2008

"Os sinais de crescimento eleitoral dos partidos à esquerda do PS e a provável perda da maioria absoluta pelo actual partido no poder requerem uma reflexão séria sobre “a esquerda” e os seus desafios. Se o proclamado “socialismo moderno” de Sócrates vier em breve a desvanecer-se no ar, uma mudança paradigmática na esquerda terá de ocorrer se não quisermos hipotecar em definitivo o futuro da democracia.
Mas, ainda que a linguagem canónica de uma certa esquerda esteja esgotada, há esquerda dentro das “esquerdas” (e dentro dos partidos de esquerda). Esgotaram-se os velhos modelos e certezas, mas persistem alguns núcleos de irreverência, espaços de inquietação e de inconformismo capazes de suscitar novas promessas e abrir caminhos alternativos. No plano partidário, o que resta da ideologia e da própria ética de esquerda (republicana, socialista, comunista, etc.) debate-se hoje com tremendas dificuldades perante os excessos de ortodoxia, de aparelhismo e dogmatismo. Por um lado, um possível revigoramento da esquerda não pode ser indiferente às heranças e marcas doutrinárias dos actuais partidos (de esquerda), desde a social-democracia (PS) ao comunismo (PC), passando pelo BE (com as suas diversas tradições ideológicas) e pelo movimento sindical. Por outro lado, os valores e posturas de esquerda perpassam, de um modo ou de outro, pelos interstícios desse leque de referências partidárias, ou seja, como sempre acontece, a pulsão criativa passa ao lado dos “núcleos duros” instalados. É nos lugares de fronteira e entre as correntes minoritárias que nascem as dinâmicas de renovação. A mudança nasce das margens para o centro e não ao contrário.
Renovar a esquerda significa, portanto, renovar os partidos e organizações de esquerda. Concretizando: a) a tradição republicana e socialista do PS, apesar de oprimida e marginalizada hoje no partido – quando não a sofrer uma fase de autocensura induzida por um clima de medos e formas mais ou menos subtis de coacção –, não desapareceu. Há vozes que se ouvem a espaços, há silêncios que se acumulam, há sentimentos de indignação calados pela necessidade do momento. Mas tudo isto pode mudar, a curto ou médio prazo, em especial se se acentuarem as tendências de quebra eleitoral do PS; b) as sensibilidades renovadoras do PC que se demarcaram da ortodoxia (e que se curaram do trauma soviético) sem abdicar de uma procura utópica alternativa, no respeito pelos valores democráticos, podem dar um contributo inestimável para abrir novos caminhos de esquerda; c) o campo do sindicalismo, que tem resistido com vigor à cultura anti-sindical e combatido com bons argumentos a nova legislação laboral, irá sem dúvida protagonizar novas acções, evidenciando a centralidade do trabalho para uma sociedade coesa e sustentável. Os líderes sindicais ou pelo menos alguns deles são referências incontornáveis de uma esquerda que recupere e actualize a perspectiva humanista e emancipatória do trabalho e a defesa do novo proletariado emergente; d) e finalmente, o Bloco de Esquerda cuja cultura de contra-poder aliada a uma expectativa de crescimento aconselha a uma redefinição identitária que supere os velhos dogmas e estimule alternativas (viáveis em democracia), permitindo maior sintonia de linguagens com as restantes correntes de esquerda. Além disso, a ligação do BE a novos movimentos sociais e sectores associativos mais jovens constituem um enriquecimento acrescido para uma esquerda renovada.
Sem a confluência de contributos oriundos de cada uma destas áreas a busca de novos caminhos de esquerda será improvável. É, pois, necessário discutir em conjunto, embora sem pôr em causa a identidade própria de cada corrente. Só a partir da diversidade se pode fortalecer a cultura democrática e construir visões progressistas do país que respondam às perplexidades políticas da actualidade. A esquerda é plural e isso tem de ser abertamente assumido. Mas só com alianças alargadas se podem mobilizar vontades que ajudem a virar esta maré. A maré que conseguiu calar muitas vozes dissonantes do PS (não todas, felizmente!) ou reverte-las em simples vozes de meninos de coro. A maré do dito “socialismo moderno”, que não se cansa de emitir repetidos sinais reveladores de como a democracia participativa é pouco conveniente e o debate alargado aos cidadãos, trabalhadores, sindicalistas, professores, etc., algo dispensável."

Elísio Estanque in Blogue Boa Sociedade
http://boasociedade.blogspot.com/

quarta-feira, julho 23, 2008

(Re) Leituras...

Os Herdeiros



"Se a escola gosta de proclamar a sua função de instrumento democrático de mobilidade social, ela tem também por função de legitimar - e portanto, numa certa medida, perpectuar - as desigualdades de oportunidades face à cultura, transformando, pelos critérios de julgamento que emprega, os privilégios socialmente condicionados em meritos ou em "dons" pessoais. A partir das estatisticas que medem a desigualdade de oportunidade de acesso ao ensino superior segundo a origem social e o sexo e apoiando-nos no estudo empírico das atitudes dos estudantes e dos professores assim como sobre a análise das regras - frequentemente não escritas - do jogo universitário, podemos pôr em evidência, para além das desigualdades económicas, o papel da herança cultural, capital subtil feito de saberes, de saber-fazer e de saber-dizer, que as crianças das classes favorecidas devem ao seu meio familiar e que constitue um património tanto mais rentável quanto mais professores e estudantes se repugnam a percebê-lo como um produto social"

P. Bourdieu et J-C. Passeron (1964). Les héritiers. Les étudiants et la culture. Paris: Les Éditions de Minuit.

De como a escola reproduz as desigualdades sociais.

E hoje passados mais de 40 anos esta leitura faz sentido?

Resposta:

"On peut se demander s’il existe un intérêt, autre qu’historique, à présenter aujourd’hui Les héritiers de Pierre Bourdieu et Jean-Claude Passeron. Car, incontestablement, la population universitaire française actuelle est très loin de se réduire aux « héritiers », comme en témoigne les données issues de l’enquête emploi 2006 de l’INSEE. Ainsi, si on s’intéresse à la probabilité objective qu’à un enfant d’accéder à l’enseignement supérieur selon son origine sociale (se reporter au graphique pp. 14-15 et au tableau p. 138 de l’ouvrage), le ratio qui sépare les enfants dont le père est ouvrier de ceux dont le père appartient à la catégorie des cadres et professions intellectuelles supérieures est passé de 42 pour l’année universitaire 1961-1962 à 3.9 pour l’année 2005-2006. Autrement dit, si, en 1961-1962, un fils de cadre supérieur a quarante deux fois plus de chances qu’un fils d’ouvrier d’entrer à l’université, en 2005-2006, un fils de cadre supérieur a quatre fois plus de chances qu’un fils d’ouvrier d’y entrer. Ce ratio révèle donc que l’élimination (et l’auto-élimination) des classes populaires des bancs de l’université demeure (le ratio est tout de même de quatre) mais avec nettement moins de prégnance qu’il y a 45 ans.
Cette comparaison statistique invalide-t-elle la valeur heuristique de cet ouvrage ? En 2008, Les Héritiers est-il un ouvrage de sociologie de l’éducation ou plutôt un ouvrage d’histoire de la sociologie (de l’éducation) ? Nous ne le pensons pas, et ce notamment pour les raisons suivantes :_Si on souhaite comparer ce qui est comparable, force est de constater que la démocratisation des populations entrant dans la scolarité supérieure est allée malheureusement de paire avec une dévaluation des diplômes. Ainsi, le fait d’obtenir un diplôme universitaire de premier cycle constitue une bien moindre chance d’accès aux positions sociales supérieures aujourd’hui qu’au début des années 1960. Par conséquent, si on souhaite rester fidèle à l’objet d’étude des auteurs, soit corréler l’origine sociale et le capital scolaire légitime, et évaluer l’évolution historique de cette corrélation, il semble plus pertinent de ne pas conserver le même échantillonnage. Il faut désormais s’intéresser plus spécifiquement aux étudiants inscrits dans les seconds et troisièmes cycles universitaires et à ceux inscrits dans un grand établissement ou une école normale supérieure. Ainsi, si un fils de cadre supérieur a aujourd’hui quatre fois plus de chances qu’un fils d’ouvrier d’entrer à l’université, il a quasiment huit fois plus de chances de s’inscrire en Master ou en doctorant, il a plus de treize fois plus de chances de s’inscrire en doctorat, vingt quatre fois plus de chances de s’inscrire dans un grand établissement supérieur et, enfin, quarante trois fois plus de chances de s’inscrire dans une école normale supérieure. Quand on prend en compte le déplacement de la légitimité des diplômes supérieurs au sein du champ scolaire, les inégalités sociales face à la réussite scolaire demeure donc malheureusement d’actualité, et ce en dépit d’une incontestable démocratisation de l’enseignement supérieur. En effet, il faut tout de même délimiter l’échantillon aux inscrits dans une école normale supérieure pour retrouver un ratio équivalent à celui des auteurs, lesquels prenaient alors en compte la totalité des inscrits dans l’enseignement supérieur"

http://www.revue-interrogations.org/article.php?article=135

terça-feira, julho 22, 2008

Num frágil sistema ecológico...a poucos metros das Dunas

Alvo de uma profunda beneficiação...


Nota: Clique em cima da foto para ampliação da imagem.

"Situado junto ao empreendimento turístico Dunas Douradas, esta praia tem apoio balnear com restaurante e encontra-se dotada das principais infra-estruturas, oferecendo excelentes condições ao banhista que aprecia amplos espaços. A zona envolvente foi alvo de uma profunda beneficiação, pelo que actualmente se caracteriza por uma elevada qualidade ambiental. Tem boas condições de estacionamento, encontrando-se o mesmo devidamente ordenado. Junto à praia existe uma pequena lagoa, zona húmida de grande interesse ornitológico, como local de nidificação e refúgio para diversas espécies de aves."

Zona húmida de grande interesse ornitológico...

Nota: Clique em cima da foto para ampliação da imagem.

Sem comentários...

segunda-feira, julho 21, 2008

O nuclear em cima da mesa: Boa altura para recordar Chernobil

O contexto é favorável ao lobby do nuclear. A crise petrolifera, o aumento do preço dos combustíveis e a escassez das energias não renováveis no curto, médio prazo, dão todas as vantagens aos negócios de milhões que giram em torno do nuclear, para impor esta "solução" em cima da mesa. Será essa a opção certa?

Recordar Chernobil é preciso:

Chernobil - 26 de Abril de 1986



"O acidente nuclear de Chernobil ocorreu dia 26 de abril de 1986, na Central Nuclear de Chernobil (originalmente chamada Vladimir Lenin) na Ucrânia (então parte da União Soviética). É considerado o pior acidente nuclear da história da energia nuclear, produzindo uma nuvem de radioatividade que atingiu a União Soviética, Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido.

Grandes áreas da Ucrânia, Bielorrússia e Rússia foram muito contaminadas, resultando na evacuação de aproximadamente 200 mil pessoas. Cerca de 60% da radioatividade caiu em território bielorrusso.

O acidente fez crescer preocupações sobre a segurança da indústria nuclear soviética, diminuindo a sua expansão por muitos anos, e forçando o governo soviético a ser menos secreto. Os agora separados países da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia têm suportado um contínuo e substancial custo de descontaminação e cuidados de saúde devidos ao acidente de Chernobil.

É difícil dizer com precisão o número de mortos causados pelos eventos de Chernobil, devido às mortes esperadas por cancro, que ainda não ocorreram e são difíceis de atribuir especificamente ao acidente. Um relatório da ONU de 2005 atribuiu 56 mortes até aquela data – 47 trabalhadores acidentados e nove crianças com cancro da tireóide – e estimou que cerca de 4000 pessoas morrerão de doenças relacionadas com o acidente. O Greenpeace, entre outros, contesta as conclusões do estudo.

O governo soviético procurou esconder o ocorrido da comunidade mundial, até que a radiação de altos níveis foi detectada em outros países. Segue um trecho do pronunciamento do líder da União Soviética, na época do acidente, Mikhail Gorbachev, quando o governo admitiu a ocorrência:

"Boa tarde, meus camaradas. Todos vocês sabem que houve um inacreditável erro – o acidente na central nuclear de Chernobyl. Ele afectou duramente o povo soviético, e chocou a comunidade internacional. Pela primeira vez, nós confrontamos a força real da energia nuclear, fora de controlo."

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Acidente_nuclear_de_Chernobil

Há pouco mais de uma semana, um acidente numa central nuclear no sul de França, derramou várias toneladas de líquido radioactivo para as águas dos rios que por ali passam.

As notícias sobre o assunto foram dadas como quem anúncia o resultado de um jogo de futebol.

Pode consultar a notícia aqui, num dos poucos sítios que lhe dão algum destaque:

http://www.observatoriodoalgarve.com/cna/noticias_ver.asp?noticia=23451

Nuclear, não obrigado! Nem no Irão, nem em lado nenhum...

domingo, julho 20, 2008

Centro de Almancil: Uma semana depois

Continua tudo na mesma...

Almancil - Loulé

Avenida 5 de Outubro - Uma das principais artérias da localidade


Este é o exemplo de uma casa completamente abandonada e em processo de degradação em pleno centro da vila de Almancil.


Três vezes ardeu a casa e três vezes vieram os bombeiros. Há relativamente pouco tempo foi daqui retirado um morto por overdose, e sabe-se lá, se não vítima de uma qualquer doença infecto-contagiosa por alí contraída. O lixo acumula-se em largos centímetros de altura no chão. Seringas, sangue, restos de comida e de bebida são o paraíso de todos os insectos, micróbios e outros parasitas. Bichos de todo o tipo acumulam-se à porta do edifício em pleno passeio público.

As pessoas que habitam nos toxicodependentes correm todo o tipo de riscos face ao contágio de todo o tipo de doenças possíveis e imaginárias.

A saúde pública, a vida dos toxicodependentes e de todos os que por ali habitam não pode esperar mais pela inépcia dos poderes públicos.


Este post é a repetição quase total do post aqui colocado em 13/07/2008.

Vamos ver quanto tempo as autoridades responsáveis vão demorar a solucionar o problema...

Ps: Voltamos para a semana.

sábado, julho 19, 2008

Robin dos Bosques quando dá jeito e democracia só às vezes

Um trabalho a todos os títulos notável do governo de Angola...



O governo de Sócrates é assim. Em nome da economia, do evangelho neoliberal e da real politick, faz tábua rasa de qualquer mínimo de respeito pelos direitos humanos e revela um entusiasmo de máxima reverência face aos países e líderes acusados de barbaridades e de graves violações dos direitos humanos.

É assim que Sócrates não teve tempo, disponibilidade e interesse em receber o grande líder Tibetano, Dalai Lama. É assim que tece um rasgado elogio à útil "democracia" angolana. É assim que realça a importância da "cooperação estratégica" com a Líbia, cujo grande líder, Mohamad Kadafi, é talvez o mais célebre ditador do Médio Oriente, "antigo" terrorista de Estado e conhecido no passado recente pelo seu papel de grande financiador do terrorismo internacional.

Sócrates, com estas posições, não difere dos tristes líderes que hoje abundam um pouco por todo o mundo ocidental, que em nome dos valores do mercado, das orientações de política económica das grandes instâncias internacionais, como o FMI, a OMC e o Banco Central Europeu, mandam os direitos humanos às urtigas e servem assim, quais mordomos da grande burguesia capitalista, os interesses daqueles que não os elegeram.

O novo Robin dos Bosques, esse nome estúpido, para uma tributação que poderia ser justa, se aplicada como deveria de ser (que seria a aplicação generalizada do imposto a todos os que vivem dos lucros especulativos e não apenas a uma parte do sector dos combustíveis) decidiu "roubar" algumas migalhas ao bolo dos ricos, para distribuir pelos pobres, na busca de um efeito de ilusão de óptica.

Após a brutal contestação social das ruas, após o descontentamernto social de uma boa parte das fracções das classes trabalhadoras e de boa parte das classes médias, estas últimas em claro declínio social e, paradoxo dos paradoxos, agora que em véspera de eleições o FMI já percebeu que as reformas que "aconselha", de desmantelamento do Estado, da privatização dos serviços públicos, da mercadorização da saúde e da educação, do recúo na protecção social, não vão ser totalmente postas em prática, devido à resistência popular, vêm os principais ideólogos da cartilha neoliberal com paninhos quentes ajudar ao enterro de Sócrates.

Ouviu quem quis ouvir. A crise é sobretudo interna, na óptica do FMI, por responsabilidade do governo de Portugal que não teve capacidade de avançar com as reformas que denomina de "progressistas". Os conservadores que dominam o mundo económico actual são assim. Quando os políticos já não interessam dão-lhes um chuto no rabo. Judas não faria melhor...

Dos pobres úteis e merecedores e dos pobres inúteis que nada merecem: Na ordem do dia


As representações sociais dominantes na sociedade portuguesa sobre a pobreza e os pobres têm presentes uma célebre dicotomia, antiga, de séculos, que divide os pobres em duas grandes categorias:

- Por um lado temos os pobres úteis, merecedores, obedientes, bem comportados e pouco incomodativos face à ordem social dominante. São os pobres que até querem trabalhar e por isso devem ser merecedores das ajudas estatais. Sobretudo, não são "disruptivos" do actual sistema capitalista e da sua busca incessante do lucro. Subordinados e por vezes explorados, mas de extrema útilidade.

- E por outro lado, os pobres inúteis, não merecedores da "caridade" do Estado, "disruptivos" da ordem social dominante, que não são dóceis como mão de obra trabalhadora, que vagabundeiam pelas ruas das cidades com a sua genética e "natural" preguiça e que não merecem as "esmolas" da "caridade" estatal.

Para estes últimos, onde se situam "naturalmente", os ciganos, os toxicodependentes, os vadios e os ladrões de algibeira (não os de colarinho branco evidentemente) aquilo que se pede é que desapareçam da vista dos "bons" cidadãos, que estes, cumpridores e devotos face ao Estado e às suas obrigações (sobretudo a pequena burguesia citadina e uma boa parte das classes populares) não admitem tamanha incúria daqueles a quem rotulam de "escória social".

Estes últimos, os "bons" cidadãos, sofreram as passinhas do Algarve para subirem na vida e à custa sempre do seu "esforço" e do seu "mérito" e não admitem que isso da habitação social, ou mesmo, o rendimento social de inserção, seja algo que possa fazer bem à "sociedade".
Para estes, o Estado nunca, mas nunca, em caso algum, deveria financiar a preguiça, pois essa é a grande tragédia responsável pelo nosso "atraso" social.

Inquiridos os portugueses sobre as causas da pobreza num estudo levado a cabo em 2007, um terço da população portuguesa respondeu que a culpa da pobreza era dos próprios pobres, evidentemente derivado da sua "natural" preguiça e outro terço respondeu que isso de ser pobre era coisa do "destino" dado por Deus. O que quer dizer, que dois terços da população portuguesa, atribui a responsabilidade da pobreza, aos próprios pobres ou a causas divinas.

O que nos leva a poder dizer, como recorda o especialista dos estudos sobre a pobreza, Alfredo Bruto da Costa, que a população portuguesa não está preparada para o combate às questões da pobreza em Portugal.

Nada que o grande Eça de Queiróz já não tivesse denunciado. Leiam com a devida atenção que garanto que vale a pena:

"Além disso, ele reconhecia que a caridade era a melhor instituição do Estado. Quanto ao pauperismo, tinha-o como uma fatalidade social: fossem quais fossem as reformas sociais, dizia, haveria sempre pobres e ricos: a fortuna pública deveria estar naturalmente toda nas mãos de uma classe, da classe ilustrada, educada, bem nascida. Só deste modo se podem manter os Estados, formar as grandes indústrias, ter uma classe dirigente forte, por possuir o ouro e base da ordem social.

Isto fazia necessariamente que parte da população "tiritasse de frio e rabiasse de fome". Era certamente lamentável, e ele, com o seu grande e vasto coração que palpitava a todo o sofrimento, lamentava-o. Mas a essa classe devia ser dada a esmola com método e discernimento: - e ao Estado pertencia organizar a esmola.

Porque o Conde censurava muito a caridade privada, sentimental, toda de espontaneidade. A caridade devia ser disciplinada, e, por amor dos desprotegidos regulamentada: por isso queria o Asilo, o Recolhimento dos Desvalidos, onde os pobres, tendo provado com bons documentos a sua miséria, tendo atestado bons atestados de moralidade, recebessem do Estado, sob a superintendência de homens práticos e despidos de vãs piedades, um tecto contra a chuva e um caldo contra a fome.

O pobre devia viver ali, separado, isolado da sociedade, e não ser admitido a vir perturbar com a expressão da sua face magra e com narração exagerada das suas necessidades, as ruas da cidade. "Isole-se o Pobre!" dizia ele um dia na Câmara dos Deputados, sintetizando o seu magnifico projecto para a criação dos Recolhimentos do Trabalho.

O Estado forneceria grandes casarões, com celas providas de uma enxerga, onde seriam acolhidos os miseráveis. Para conseguir a admissão, deveriam provar serem maiores de idade, haverem cumprido os seus deveres religiosos, não terem sido condenados pelos tribunais (isto para evitar que operários de ideias suversivas que, pela greve e pelo deboche, tramam a destruição do Estado, viessem em dia de miséria, pedir a esse mesmo Estado que os recolhesse).

Deveriam ainda provar a sobriedade dos seus costumes, nunca terem vivido amancebados nem possuírem o hábito de praguejar e blafesmar. Reconhecidas estas qualidades elevadas com documentos dos párocos, dos regedores, etc.; seria dada a cada miserável uma cela e uma ração de caldo igual à que têm os presos".

Eça de Queiróz em "O Conde de Abranhos" pag.34 e 35.

Que se comprove com bons documentos a sua miséria e que se apresentem os atestados de moralidade...depois decida-se da esmola...ou então...Isole-se o pobre!

Abraços e bom fim de semana

Ps: Partes deste post já tinham sido reproduzidas em post do ano 2007.

sexta-feira, julho 18, 2008

A propósito da falsa associação entre criminalidade e imigração

Comentário do ano nos blogues do Concelho de Loulé

A escolha é da inteira responsabilidade do macloulé

"Lei nº 134/99, de 28 de Agosto, Decreto-Lei nº 111/2000, de 4 de Julho:
"Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão da ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social."

Portugal durante décadas foi um país de emigrantes, teremos alguma legitimidade moral para atacar todos aqueles que chegam ao nosso país, com o intuito de desfrutarem da oportunidade de uma vida mais digna e honesta, a qual lhes é negada nos seus países de origem?"

O comentário é do Jorge. Português e residente actualmente no Brasil. Foi produzido no âmbito de uma acalorada discussão no Blogue Quiosque da Camila.

Recordo, para aqueles que são mais distraídos, que ao contrário do que os media tendem a fazer crer, não há qualquer nexo de causalidade entre imigração e criminalidade. Era bom que os media ao contrário de reforçar esta falsa ideia ajudassem a desconstruir tão deplorável mito.

Deixo-vos com o Cantar de Emigração de Adriano Correia de Oliveira numa justa homenagem ao discernimento do amigo Jorge.

quinta-feira, julho 17, 2008

Memória Ambiental da Cidade de Loulé: Descubra as diferenças

Avenida das Árvores Abatidas

Era das Trevas


Nota: Clique em cima da foto para ampliação da imagem.

Era das Luzes, do Progresso e da Modernidade


Nota: Clique em cima da foto para ampliação da imagem.

A importância das árvores urbanas

Só para relembrar alguns aspectos importantes das árvores nas cidades, sem prioridades:

1. melhoram o micro-clima, aumentam o conforto urbano e diminuem os consumos energéticos:

a) reduzem o vento

b) aumentam o ensombramento no Verão

c) diminuem o efeito da "ilha de calor"

d) aumentam a humidade atmosférica no Verão

e) reduzem o albedo

2. reduzem a poluição atmosférica absorvendo vários poluentes em suspensão

3. fixam CO2 e libertam O2

4. criam micro-habitats para a fauna, em especial aves e insectos

5. favorecem a infiltração das águas pluviais, podendo diminuir os caudais de cheia

6. enquadram e valorizam esteticamente as estruturas edificadas

7. dão variações de cor, forma e textura à cidade

8. aumentam a nossa sensação de bem-estar

9. aumentam o valor financeiro dos imóveis próximos

10. ligam-nos à "Natureza"...

Blogue Árvores da Minha Rua

in http://arvoresdaminharua.blogspot.com/

quarta-feira, julho 16, 2008

Livros da minha vida...

Terminei a leitura pela terceira vez...

Os Maias - Eça de Queiroz

Adaptação para televisão...

...a estória de Carlos e Maria Eduarda



Ainda o apanhamos!



Deixo-vos alguns excertos deliciosos...

"(...)— E aqui tens tu uma existência de homem! Em dez anos não me tem sucedido nada, a não ser quando se me quebrou o faetonte na estrada da Saint-Cloud... Vim no Figaro. Ega ergueu-se, atirou um gesto desolado:
— Falhámos a vida, menino!
— Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se: «Vou ser assim, porque a beleza está em ser assim.» E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, como dizia o pobre marquês. Às vezes melhor, mas sempre diferente.
Ega concordou, com um suspiro mudo, começando a calçar as luvas."

"(...)— E que somos nós? — exclamou Ega. — Que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento, e não pela razão... Mas Carlos queria realmente saber se, no fundo, eram mais felizes esses que se dirigiam só pela razão, não se desviando nunca dela, torturando-se para se manter na sua linha inflexível, secos, hirtos, lógicos, sem emoção até ao fim...
— Creio que não — disse o Ega. — Por fora, à vista, são desconsoladores.
E por dentro, para eles mesmos, são talvez desconsolados.
O que prova que neste lindo mundo ou tem de se ser insensato ou sem sabor...
— Resumo: não vale a pena viver..."

"(...)— Oh, diabo!... E eu que disse ao Vilaça e aos rapazes para estarem no Bragança, pontualmente, às seis! Não aparecer por aí uma tipóia!...
— Espera! exclamou Ega. — Lá vem um americano, ainda o apanhamos.
— Ainda o apanhamos!
Os dois amigos lançaram o passo, largamente. E Carlos, que arrojara o charuto, ia dizendo na aragem fina e fria que lhes cortava a face:
— Que raiva ter esquecido o paiozinho! Enfim, acabou-se. Ao menos assentámos a teoria definitiva da existência. Com efeito, não vale a pena fazer um esforço, correr com ânsia para coisa alguma.
Ega, ao lado, ajuntava, ofegante, atirando as pernas magras:
— Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder... A lanterna vermelha do americano, ao longe, no escuro, parara. E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço:
— Ainda o apanhamos!
— Ainda o apanhamos!
De novo a lanterna deslizou e fugiu. Então, para apanhar o americano, os dois amigos romperam a correr desesperadamente pela Rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do luar que subia."

terça-feira, julho 15, 2008

Qualidade de vida na Metrópole...

Metro de Tóquio - Hora de Ponta




Metade do mundo viverá em cidades até ao fim de 2008

"Até ao final do ano, pela primeira vez na história mais de metade da população mundial viverá em cidades, segundo relatório divulgado na terça-feira pela ONU.

O estudo estima que até 2050 haverá 6,4 bilhões de habitantes nas cidades, quase o dobro dos 3,3 bilhões atuais. Nesse período, a população total deve passar de 6,7 para 9,2 bilhões de pessoas.

As regiões mais desenvolvidas do mundo - Europa, América do Norte e Oceania - já têm uma população maioritariamente urbana, assim como América Latina e Caribe. África e Ásia, onde se concentra a maior parte da humanidade, ainda têm uma maior população rural do que urbana (numa proporção de 60-40 por cento).

A expectativa é de que a população rural do mundo comece a declinar dentro de uma década, aproximadamente, e caia dos 3,4 bilhões contabilizados em 2007 para 2,8 bilhões em 2050.

Alguns países, como a Índia - onde ficam duas das maiores metrópoles do mundo, Mumbai e Délhi, com respectivamente 19 e 18,8 milhões de habitantes em 2007 - pretendem reduzir a urbanização com incentivos ao desenvolvimento de áreas rurais.

Mas, apesar dos desafios que a urbanização representa para os governos, Hania Zlotnik, directora da Divisão de População da ONU, disse aos jornalistas que o crescimento das cidades costuma ser um sinal de dinamismo económico, e que os governos deveriam saber disso.

Até 2025 devem surgir mais oito "megacidades" (com mais de 10 milhões de habitantes), o que representa novos desafios, especialmente no campo da saúde pública, segundo Zlotnik,

Na Ásia, a população urbana deve superar a rural entre 2020 e 2025, enquanto em África isso ocorrerá entre 2045 e 2050.

Cerca de 40 por cento da população da China já vive em cidades, e em 2050 devem ser 70 por cento - ou seja, mais de 1 bilhão de pessoas em áreas urbanizadas daquele país, o mais populoso do mundo.

Até 2025, a próspera Shenzhen, vizinha de Hong Kong, deve atingir 10,2 milhões de habitantes, tornando-se a terceira megacidade chinesa, conjuntamente com Pequim e Xangai, segundo projeções da ONU.

A Índia, segundo país mais populoso, tem atualmente apenas 29 por cento dos seus habitantes em áreas urbanas. Até 2050, devem ser 55 por cento.

"A Índia deve-se urbanizar bem menos do que a China, e portanto espera-se que permaneça como o país do mundo com a maior população rural", disse Zlotnik.

Mas o país também terá duas novas megacidades até 2025, conjuntamente com as atuais Mumbai e Délhi. Calcutá deve atingir 20,6 milhões de habitantes, e Chenai (Madras) chegará a 10,1 milhões, sempre segundo os cálculos da ONU.

Até 2025, deve haver 27 megacidades no mundo, e na Europa só Paris vai entrar na lista, com a cifra mínima de 10 milhões de moradores. Das 19 megalópoles atuais, só duas (Moscou e Istambul) ficam na Europa.

A Grande Tóquio deve continuar a ser a cidade mais populosa do mundo - os 35,7 milhões de habitantes do último censo devem chegar a 36,4 milhões dentro de 17 anos.

A África atualmente tem apenas uma megalópole, o Cairo. Kinshasa (Congo) e Lagos (Nigéria) devem entrar na lista até 2025. "

Publicada em 27/02/2008
Reuters/Brasil Online

Por Louis Charbonneau
in http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/02/27/metade_do_mundo_

vivera_em_cidades_ate_fim_de_2008-425978981.asp



segunda-feira, julho 14, 2008

Ainda o não Irlandês e o ethos anti-democrático dos líderes Europeus

É um erro consultar os povos europeus...

...face à importância do Tratado de Lisboa...




Irlanda

Por Serge Halimi

"Imaginemos que, logo que tivesse sido anunciado um veredicto de absolvição por um júri popular, um presidente de tribunal voltasse a dar a palavra ao procurador para que ele completasse o seu requisitório. E que, desta vez, ele conseguisse a condenação do acusado. Porque não, se no dia 12 de Junho último, pouco depois da recusa, por uma larga maioria dos irlandeses, do Tratado de Lisboa (que não pode entrar em vigor se não for adoptado pela totalidade dos vinte e sete Estados membros da União), a maioria dos dirigentes europeus fez saber que o processo de ratificação iria continuar… «A Europa» já está habituada a que as suas elites atentem contra a soberania popular. Isso tornou-se a sua imagem de marca, mesmo quando ela se apresenta como a rainha da democracia na Terra.

Porque rejeitaram um tratado «simplificado» tão ininteligível que o primeiro-ministro Brian Cowen teve que admitir que não conseguiu lê-lo e compreendê-lo por inteiro, os irlandeses teriam, segundo um deputado europeu, ressuscitado a lembrança de uma «democracia popular». «Não é por acaso», confirmou um dos seus colegas «que o referendo é o procedimento mais utilizado pelos ditadores» [1].

E o presidente do Parlamento Europeu, Hans-Gert Pöttering, concluiu: «O “não” irlandês não pode ser a última palavra» [2]. Haverá pois um segundo referendo sobre o Tratado de Lisboa, depois talvez um terceiro: em Dublin, votar-se-á até que se obtenha um sim, visto que os Estados cujos eleitores nunca foram consultados o reclamam…
Os irlandeses são culpados! Ingratos, egoístas, populistas, eles têm dificuldade em elevar-se ao nível de generosidade e de abnegação da sua classe dirigente. Excepto quando, confiando-lhe o poder, eles lhe dão o mandato para promoverem «reformas corajosas». Mas, nesse caso, eles não voltam a votar. Nisso, são muito europeus…

O encanto quebrou-se. A marca Europa não parou de se alargar e de se vender evocando a paz, a prosperidade, a justiça, a igualdade. Produziu belos cartazes com um céu muito azul e crianças que dançam de mãos dadas; ela dispõe de uma turba de jornalistas e de artistas com um militantismo infatigável; colóquios, reuniões, subvenções, produzem Europa com a mesma certeza com que os moinhos agitam o vento. Mas ninguém agita as suas cores. A sua identidade parece neste ponto tão evanescente que, quando ela imagina uma moeda comum, a única face impressa sobre as notas é a da vida cara.

A Europa fala de paz, mas envolve-se nas guerras incertas do exército norte-americano. Fala de progresso, mas organiza a desregulamentação do trabalho. Fala de cultura, mas redige uma directiva, a Televisões Sem Fronteiras, que vai multiplicar a frequência dos spots publicitários. Fala de ecologia e de segurança alimentar, ao mesmo tempo que levanta um embargo de onze anos sobre a importação de frangos americanos que foram imersos num banho de cloro J [3]. Por fim, fala de liberdade. E aprova uma «directiva da vergonha» que prevê que os estrangeiros em situação irregular possam ser detidos durante dezoito meses antes de serem expulsos.

Manter a promessa europeia imporia harmonizar pelo topo: liberdades, direitos sociais, fiscalidade progressiva, independência. Em nome da unificação, conseguiu-se pelo contrário diminuir os ganhos dos Estados mais avançados. E o que há é a detenção prolongada, o trabalho de noite estendido às mulheres, o comércio livre, o atlantismo. Uma tal política acabou por fazer nascer uma Europa social: a que diz «não».

Observando que na Irlanda as mulheres, os jovens entre os 18 e os 29 anos, os operários e os empregados rejeitaram em massa o texto que lhe propunham, o semanário The Economist ironiza: «Um colégio eleitoral próximo dos do século XIX, isto é, reduzido aos proprietários idosos do sexo masculino, teria produzido um “sim” maciço ao Tratado de Lisboa.» [4] Mas que Europa se espera construir com um regresso ao sufrágio censitário?

Quinta-feira 10 de Julho de 2008
In Le Monde Diplomatique

domingo, julho 13, 2008

Casas devolutas ou casas de chuto? Um perigo para a saúde pública

Almancil - Loulé

Avenida 5 de Outubro - Uma das principais artérias da localidade



Este é o exemplo de uma casa completamente abandonada e em processo de degradação em pleno centro da vila de Almancil.


Três vezes ardeu a casa e três vezes vieram os bombeiros. Há relativamente pouco tempo foi daqui retirado um morto por overdose, e sabe-se lá, se não vítima de uma qualquer doença infecto-contagiosa por alí contraída. O lixo acumula-se em largos centímetros de altura no chão. Seringas, sangue, restos de comida e de bebida são o paraíso de todos os insectos, micróbios e outros parasitas. Bichos de todo o tipo acumulam-se à porta do edifício em pleno passeio público.

As pessoas que habitam nos toxicodependentes correm todo o tipo de riscos face ao contágio de todo o tipo de doenças possíveis e imaginárias.

A saúde pública, a vida dos toxicodependentes e de todos os que por ali habitam não pode esperar mais pela inépcia dos poderes públicos.

Conta-me o Bordeira, toxicodependente com quem costumo conversar, quando me vem pedir a moedinha da praxe, que em Loulé existem algumas situações dramáticas deste género. Será verdade?

Espreite...mas não se aproxime....


Ps: Bordeira é evidentemente nome fictício no sentido de preservar a identidade da pessoa em causa.

O problema dos toxicodependentes

Jornal "O Louletano" de 7 de Julho de 2008.

Ficámos a saber que na Assembleia Municipal de Loulé discutiu-se o "problema" dos toxicodependentes.

Parece que associado ao "problema" dos toxicodependentes está o "problema" dos arrumadores de carros.

Vejamos o excerto de um deputado, com nome de cantor popular, do partido que se diz socialista:

"A questão dos arrumadores de carros no Largo Engº Duarte Pacheco, em Loulé, é um caso de saúde e segurança pública. As pessoas são coagidas a dar moeda com medo de represálias. Muitas vezes assiste-se à venda de droga e ao consumo de estupefacientes naquela zona, próxima de uma escola e de equipamentos desportivos". (pág.5)

É claro que o caso de "saúde e de segurança pública" tem que ver com a saúde e a segurança dos que não são toxicodependentes, pois são esses que são incomodados com o "problema" que são os toxicodependentes.

Dos largos milhares de toneladas de droga que desembarcam anualmente nas costas algarvias nem pó, de verdadeiros traficantes nem uma só silaba e de políticas de reinserção social, na notícia referida, só o Sr. Presidente da Câmara, a intervir para relembrar, os rios de dinheiro que a mesma gasta há alguns anos sem grandes efeitos que se vejam.

O problema parece que são mesmo os toxicodependentes e o que fazer com os mesmos para que desapareçam da praça pública, pois isto não é coisa que dignifique tão ilustre cidade.

No mesmo jornal, ficamos também a saber que, onde se iria debater, já não o "problema" dos toxicodependentes, mas a problemática da toxicodependência, parece que ninguém quis saber disso para nada.

O debate foi organizado pelo partido que se diz socialista, mas o público não compareceu. Lamentou-se também o facto da ausência dos "filiados do partido".

Não sei, sinceramente, se isso foi bom ou se foi mau. Se fosse para debater ideias sobre o problema da toxicodependência certamente que seria coisa boa. Se fosse para contaminar o debate com o "problema" dos toxicodependentes, então se calhar, foi melhor que alguns dos "filiados" tenham tido mais que fazer, do que debater tais "problemas" que tanto incomodam as populações.

Porque se deixou de fazer "problema" do tráfico de droga quando somos o 2º país da Europa que mais droga recebe?

Porque nos tornámos tão indiferentes face ao problema do consumo de droga que o encaramos com tamanha indiferença e naturalidade?

Porque tão facilmente transformamos as vítimas em culpados e ficamos tão incomodados com os toxicodependentes que circulam em nosso redor numa lógica de simples sobrevivência?

Porque não encaramos o problema da toxicodependência como um problema dramático das sociedades em que vivemos?

Porque não há vontade política? Porquê?

Intervenção do BE na Assembleia da República



Ps: No próximo post abordarei o "problema" das casas devolutas, que afinal, mais não são do que "casas de chuto", sem o mínimo de condições higiénico-sanitárias e que existem um pouco por todo o concelho.

sexta-feira, julho 11, 2008

Memória Ambiental da Cidade de Loulé: Descubra as diferenças

Loulé, ano de 2008

Avenida das Árvores Abatidas

Era das Trevas



Nota: Clique em cima da foto para ampliação da imagem.

Fim da Era das Trevas


Nota: Clique em cima da foto para ampliação da imagem.

Era das Luzes, da Modernidade e do Progresso


Nota: Clique em cima da foto para ampliação da imagem.

Memória das árvores desaparecidas

Árvores, são testemunhos de vida
São almas, sentimentos e odores
São retratos, recordações
Memórias, de paixões e amores

Divas, hirtas e serenas
São mais velhas do que a própria vida
olham o fio do horizonte
Incrédulas, face à dor sentida

São mais humanas do que os homens
Respiram e fazem tudo respirar
Procuram na noite escura, lobisomens
Tudo o que pedem, é capacidade de amar

E sangram, resistem e choram
Até às últimas horas em que se transformam
Noutras vidas, agora perdidas
Na vastidão infinita do universo

Autoria: João Martins

quinta-feira, julho 10, 2008

Sobre o abate de árvores um pouco por todo o lado: De Loulé a Porto Alegre

Último post do Blogue Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

06 Julho 2008

A grande estupidez humana

O Flamboyant da Rua Luzitana





Ao mesmo tempo que cidadãos fazem todos os esforços para preservar árvores, em todos os lugares do planeta, a estupidez humana continua solta e atuante.
E não apenas aqui em Porto Alegre, onde fomos avisados por este e-mail:

"É com pesar que informamos que HIGIENÓPOLIS chora a morte de seu Flamboyant, derrubado à pouco por aqueles que construiram uma entrada de garagem na frente do número 614 da Luzitana e que não cansaram de na calada da noite ou do dia, quando pais de familia e a maioria dos moradores descansam ou trabalham, em tentar derrubar e derrubaram aquela nossa linda árvore simbolo de muitas lutas que vocês apoiaram e que tantos problemas nos causaram e vão nos causar por este ato. A SMAM protocolo 1159/08 foi acionada e vai ver, lembrem a árvores estava protegida pela SMAM que ficou de protegê-la, vamos procurar o que isto quer dizer no Aurélio e outros dicionários do genêro. Na verdade estamos pensando em criar um novo movimento, mais pragmático e realista."

HIGIENÓPOLIS MORRE
Será que um dia teremos a nossa Porto Mais Alegre?

O Flamboyant foi notícia em nossos meios de comunicação e nos blogs dos Movimentos de Moradores por causa da tentativa de corte feita em 2007.
Vejam aqui:

• Bandidos usam motoserras

http://goncalodecarvalho.blogspot.com/2007/12/bandidos-usam-motoserras.html

• Higienópolis pede ajuda

http://higienopolisvive.blogspot.com/2007/12/flamboyant-da-luzitana-atacado-por.html

Parece que a porta de uma garagem num prédio de apartamentos que foi construído estrategicamente em frente da árvore, tem mais valor que ela.
Claro que isso é de uma estupidez espantosa!
E essa estupidez não é apenas aqui. Está espalhada mundo afora.

Vejam o Blog do Movimento Apartidário da Cidade de Loulé, em Portugal...



E no Blog A Sombra Verde, também de Portugal:


Em plena época que as pessoas estão alarmadas pelo aquecimento do planeta, com tantas notícias disponíveis para cada um fazer a sua parte para reduzir a emissão de carbono, se cortam árvores.
E sempre tentam nos convencer que por algum "bom e justificável motivo". Via de regra, o motivo é o de sempre: ganância econômica.

Realmente, a estupidez humana é infinita.
E pior ainda, é a omissão da maioria de nossa população!

Postado por Amigos da Rua Gonçalo às 16:36

Consulte os blogues:

http://goncalodecarvalho.blogspot.com/
e

http://sombra-verde.blogspot.com/

quarta-feira, julho 09, 2008

Recordar Gisberta

Da recusa da diferença



Gisberta acumulava todas as desvantagens sociais das sociedades contemporâneas...

... pobre, imigrante, transsexual, vítima do SIDA, toxicodependente, prostituta...

O expoente máximo da fragilidade social...

Morta segundo a justiça portuguesa por "afogamento"...

Todos os dias são dias da Gisberta...

Fica o testemunho do Pedro Abrunhosa



E você... já ouviu falar em homofobia?

Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos

Nota: Imagens da Capela do Ossos em Évora.

A minha Morte

Eu quero, quando morrer, ser enterrada
Ao pé do Oceano ingénuo e manso,
Que reze à meia-noite em voz magoada
As orações finais do meu descanso…

Há-de embalar-me o berço derradeiro
O mar amigo e bom para eu dormir!
Velei na vida o meu viver inteiro,
E nunca mais tive um sonho a que sorrir!

E tu hás-de lá ir… bem sei que vais…
E eu do brando sono hei-de acordar
Para teus olhos ver uma vez mais!

E a Lua há-de dizer-me em voz mansinha:
- Ai, não te assustes… dorme… foi o Mar
Que gemeu… não foi nada… ’stá quietinha…

Florbela Espanca em [Esparsos de Florbela]

A morte...talvez o mais democrático facto social da história da humanidade.

Aproveita o dia...sê feliz em cada momento que passa...

João Martins
1970-

terça-feira, julho 08, 2008

Sonhos de uma noite de Verão...



“O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”, escreveu Freud na sua obra-prima A Interpretação dos Sonhos. Há muito tempo que não me lembrava dos meus sonhos nocturnos. O sonho desta noite trouxe o recalcado à memória.

Sonhei que o primeiro ministro de Portugal, José Socrates Carvalho Pinto de Sousa, não tinha dito nas televisões portuguesas que quem acusa este governo, que se diz socialista, da responsabilidade pela crise "interna" "só pode estar do lado do Diabo". É que para o homem que está do lado de Deus e vai certamente para o céu há efectivamente duas crises.

Uma crise "interna" que graças ao Deus Sócrates pôde ser travada e permitiu a salvação da pátria. E uma crise "externa" que tem que ver com o aumento do preço dos alimentos, com o aumento do preço do petróleo e dos combustíveis, com as alterações climáticas e com outros males que pelo mundo fora tanto dano fazem a quem está do lado de Deus e do lado de "dentro" deste rectângulo à beira mar plantado .

A partir de Sócrates ficamos a saber, o que nos acontece de bem deve-se aos que estão do lado de Deus, o que nos acontece de mal, só pode ter sido por estarmos do lado do Diabo. Como não consigo ver o Portugal com os problemas de "dentro" e o Portugal dos problemas de "fora" só tenho um remédio, estar do lado do Diabo. Nada que os psicólogos já não tivessem explicado.

Depois sonhei que Manuela Ferreira Leite, futura primeira ministra de Portugal, não tinha dito que não era retrógada. Ela até respeita as orientações sexuais de cada um, o que acha, é que os homosexuais não são seres humanos como os outros, e portanto, devem ser descriminados negativamente. Sonhei então que, ou a futura primeira ministra de Portugal não tinha lido a Constituição da República, ou, se a tinha lido, não a quer é mesmo cumprir. Nada mau para uma futura primeira ministra de Portugal.

No meio de tanta confusão, advinda desta minha interpretação dos sonhos, apareceu-me também o homem de Boliqueime. Sonhei pois, que um tal de Presidente da República de um país que se chamava Portugal, no dia 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, entrevistado por uma dessas novas espécies incomodativas denominadas de jornalistas, respondeu que não respondia ao que lhe era perguntado porque esse dia era para comemorar, uma vez ser Dia da Raça.

Para terminar a noite em beleza, sonhei ainda que os líderes das nações da América do Sul, alguns deles, líderes de democracias de qualidade duvidosa, tinham acusado a União Europeia de ter vergonhosamente aprovado a directiva de retorno que abre portas à criminalização dos emigrantes. Chavez, Lula, Morales e companhia, teriam neste sonho meu, referenciado a Directiva da Vergonha para questionar a qualidade da democracia na Europa.

Mesmo na fase final do sonho, apareceu o fantasma do racismo institucional. Em pleno coração da União Europeia, com o governo conservador de Berlusconi em Itália, esse paladino defensor da democracia ocidental, a decretar que se faça um levantamento do ADN da população cigana que habita o país da bota.

Acordei sobressaltado e vi que nada disto era verdade. Foi apenas um sonho de mais uma noite de verão...do lado do Diabo certamente...

segunda-feira, julho 07, 2008

(Des) Ordenamento da Orla Costeira no Concelho de Loulé: Do Betão Próximo das Dunas

Loulé, Allgarve, Portugal

Dunas Douradas - Praia das Marias

Anos seguidos de sobreocupação humana do litoral algarvio, de desordenamento do território, de políticas laxistas e de obediência aos interesses privados de alguns, em detrimento do interesse público de todos, provocaram a erosão de larga faixa da região do Algarve com custos irreversíveis para as populações que por ali habitam.


Nota: Clique em cima da foto para ampliação da imagem.

Perto de 100 metros mais há frente, na mesma praia da foto em cima, autoriza-se um empreendimento turístico bem cimentado a apenas algumas dezenas de metros das Dunas. Sabe-se actualmente que o aquecimento global vai continuar a provocar a subida do nível do mar e que a costa algarvia não está imune a esse fenómeno. Inconscientemente (ou não) continua-se a autorizar construção a poucos metros da costa. Continua-se a não aprender com os erros do "passado".


Nota: Clique em cima da foto para ampliação da imagem.

Fica a pergunta:
- Ordenamento da Orla Costeira ou Plano de "Ocupação" da Orla Costeira?

Alguém sabe a resposta?

domingo, julho 06, 2008

Retratos da cidade de Loulé: Olhar o Mundo

Olhar a cidade...

...e entrar na alma dos homens...



Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo.

António Aleixo

Boa semana

sábado, julho 05, 2008

Avenida das Árvores Abatidas: Descubra as diferenças...

Avenida José da Costa Mealha

Loulé, Allgarve, Portugal

Era das Trevas


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Era das Luzes, do Progresso e da Modernidade


Árvores

Parece-me que nunca ninguém há-de
Ver poema tão belo como a árvore.

Árvore que sua boca não desferra.
Do seio doce e liberal da terra.

Árvore, sempre de Deus a ver imagem
E erguendo em reza os braços de folhagem.

Árvore que pode usar, como capelo,
Ninhos de papo-ruivo no cabelo;

Em cujo peito a neve esteve assente;
Que vive com a chuva intimamente.

Os tontos, como eu, fazem poesia;
Uma árvore, só Deus é que a faria.

Joyce Kilmer

Nota: Agradeço ao Jorge o envio do poema.