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segunda-feira, junho 09, 2008

Memórias da História Ambiental da Cidade: Era uma vez uma árvore

Loulé, Abril de 2008

Avenida José da Costa Mealha



Na Idade das Trevas...antes de sermos desenvolvidos...e estarmos orgulhosos do nosso movimento de... modernização...

Deixo-vos com o magnífico poema...

As Árvores Cortadas

Deceparam as árvores da rua!
Sem troncos hirtos na calcada fria,
a rua fica inexpressiva e nua;
fica uma rua sem fisionomia.

0 sol, com sua rústica bondade,
aquece até ferir, até matar.
E a rua, a rir sem personalidade,
não dá mais sombras aos que não tem lar.

As árvores, ao vento desgrenhadas,
não lastimam a peia das raízes:
Olvidam sua, dores, concentradas
no sofrimento de outros infelizes.

Eu penso, quando à frente dos casais
vem sentar-se um mendigo meio-morto,
que uma fronde se inclina um pouco mais,
para lhe dar mais sombra e mais conforto.

Sem elas, fica a triste perspectiva
de uns muros esfolados, muito antigos,
que se unem na distância inexpressiva
como se unem dois trôpegos mendigos.

Quando vier com o seu farnel de lona,
arrimar-se à sua árvore querida,
o ceguinho de gaita e de sanfona
será capaz de maldizer a vida.

E aquela magra e tremula viuva
que anda a esmolar com filhos seminus,
quando o tempo mudar, chegando a chuva,
dirá que dela se esqueceu Jesus!...

Meu Deus, seja qual for o meu destino,
mesmo que a dor meu coração destrua,
não me faças traidor, nem assassino,
nem cortador de árvores da rua!

Poesia de Guiuseppe Artidoro Ghiaroni

(Antologia da Nova Poesia Brasileira - J.G . de Araujo Jorge - 1a ed. 1948)

http://www.jgaraujo.com.br/antologia/giu_as_arvores_cortadas.htm

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