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sábado, fevereiro 16, 2008

Semana da música, do amor e da felicidade

Wollfgang Amadeus Mozart - Um génio antes do tempo dos génios



Norbert Elias publica, em 1991, uma obra sociológica admirável intitulada Mozart - Sociologia de um Génio.

Elias define Mozart como um génio que viveu antes da idade dos génios.

Nasce numa sociedade que não conhecia ainda o conceito romântico de génio e cujo cânone social não oferecia ainda um lugar legítimo ao artista genial com uma existência social independente.

É a partir do entendimento da estrutura social da época que podemos compreender o agudo conflito que se estabelece a certa altura da sua vida com o seu inflexível patrono, o arcebispo de Salzburg, que empregava igualmente seu pai, também ele músico da corte de Salzburg.

Mozart, artista burguês na sociedade da corte, tinha na época o mesmo estatuto social que o cozinheiro ou qualquer outro mestre de servir da corte austriaca.

O arcebispo considera Mozart como um mero executante que deve seguir o gosto estético convencionado pela aristocracia da corte assim como as suas sugestões músicais. Mozart recusa claramente as intromissões no seu modo de compor.

Menino prodígio das cortes europeias desde mais tenra idade, recusa os cânones convencionais da sua época e decide nos últimos anos da sua vida tornar-se "artista livre".

O seu pai vê nesta decisão o início do declínio de uma carreira brilhante. Infelizmente o seu pai viria a ter razão.

Como nos ensina Elias (1991:12):
"Até à geração de Mozart, um músico que quisessse ser reconhecido socialmente como artísta com dignidade própria, e que, ao mesmo tempo, quisesse manter-se na posição de prover às suas necessidades e da sua família, tinha que encontrar uma colocação no interior do complexo das instituições aristocráticas (...). O destino individual de Mozart, o seu destino como homem singular e como músico singular, foi influênciado de maneira determinante pela sua situação social, pela dependência, como músico do seu tempo, da aristocracia da corte".

A decisão de levar a cabo concertos fora da alçada da aristocracia do seu tempo teve como consequência o voltar de costas da boa sociedade Vienense. Se corresse a voz que o imperador não apreciava um determinado músico, a boa sociedade, simplemente abandonava-o.

Segundo Norbert Elias, Mozart que depositara todas as suas esperanças no público de Viena, sofreu imenso com as humilhações infligidas pela nobreza. Na interpretação de Elias, Mozart irá sofrer de desgosto até morrer pelo não reconhecimento da sua genialidade músical.

* Recomenda-se a obra admirável de Norbert Elias, Mozart - Sociologia de um Génio, 1991.

Aproxima-se do final a semana da música, do amor e da felicidade.

1 comentário:

  1. Norbert Elias ... por acaso andei a pesquisar o sobrenome Elias, e esse foi um dos que veio à baila ... é meu parente e eu não sabia :) ...
    João, João ... o que você arranjou ali pros lados ...

    ;)Liliana

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