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terça-feira, janeiro 01, 2008

Sonhos de uma noite de Ano Novo

Dia 01 de Janeiro de 2008.

Sonhei que o nível de vida dos portugueses ia melhorar.

Afinal de contas enganei-me. O preço do pão aumenta. Para comprar leite é preciso mais dinheiro. As consultas nos Centros de Saúde e nos Hospitais sobem. A electricidade está mais cara. Os transportes aumentam. Os combustíveis provavelmente continuarão a subir. Os salários crescem abaixo da inflação.

Sonhei que o maior ataque aos direitos económicos e sociais, após o 25 de Abril de 1974, levados a cabo por esta espécie de partido socialista iria parar.

Afinal enganei-me, os Centros de Saúde, as Urgências dos Hospitais, as maternidades, continuam a encerrar por esse país fora, essencialmente no interior do país e junto das populações mais pobres.
A Saúde ficou mais cara e os serviços públicos caminham a sua escalada de degradação. Por outro lado os negócios da Saúde prosperam. Nunca como hoje se ganhou tanto dinheiro com a vida e a morte de cada um dos cidadãos. Quem pode paga, quem não pode que vá ao Totta.

Sonhei que o desemprego diminuia, que a promessa dos cento e cinquenta mil empregos de Sócrates era verdade e que o emprego precário e a geração recibos verdes era para passar à história.
Afinal enganei-me, o desemprego provavelmente vai ter tendência a aumentar, os novos empregos criados não vão compensar o emprego destruído, o emprego precário e as novas formas "atípicas" de emprego estão aí para durar e a geração recibo verde tem um "futuro" hipotecado a prazo e sem confiança no que aí há-de vir.

Sonhei que a discussão sobre a flexigurança ia voltar para trás e o bom senso ia prevalecer face à realidade do nosso país.
Afinal enganei-me, num dos países da União Europeia com maiores desigualdades salariais, dos mais baixos salários da UE a 15, com um dos maiores indíces de desigualdade social da Europa, a tónica vai ser dada à "flexibilidade" e muito pouco à segurança.
Facilitou-se o despedimento e o capital aumenta o seu poder face ao trabalho. O medo instala-se nas empresas e organizações.

Sonhei que o Estado Social iria apoiar os mais pobres e necessitados e que tornaria menos dependentes os privilegiados.
Afinal enganei-me, as politicas neoliberais são a cartilha do governo de Sócrates e esse dogma de fé é para ser levado como uma doutrina inevitável até à destruição total do Estado.

Sonhei que as classes médias continuariam a crescer, pois isso é um sinal vital de dinamização da sociedade.

Afinal enganei-me, as classes médias vão continuar a encolher e a serem encaradas como inimigo a abater.
Os professores vão continuar a ser culpados pelos problemas da educação, os profissionais da saúde vão continuar a ser esmagados por cada vez mais magros orçamentos, a cultura faz notícia com a não renovação dos contratos dos profissionais da arqueologia, a justiça vai continuar a ser o maior cancro da sociedade portuguesa. As vítimas do caso Casa Pia continuam a ser as únicas que não são protagonistas da história.

Sonhei que a promessa eleitoral de referendar o Tratado Europeu não era uma mentira governativa.

Sonhei que Durão Barroso não tinha dito que foi enganado pelas imagens das armas de destruição maciça no Iraque e pelas informações que lhes deram os outros capangas.

Sonhei que Ramos Horta não tinha dito que iria propor Durão Barroso para Nobel da Paz.

Sonhei que Durão Barroso não era líder do PSD no caso de financiamento ilegal dos partidos conhecido pelo caso Somague. Era porreiro que não tivesse sonhado com isso.

Sonhei que George W. Bush e companhia tinham sido julgados pelo Tribunal Internacional de Haia por crimes de guerra contra a humanidade e pela carnificina que provocaram no Iraque.

Sonhei que as tendências autoritárias do Estado tinham sido coisas do tempo da velha senhora.

Sonhei que havia por aí uns novos empreendedores da moral que procuram regular como devemos viver, comer, amar e talvez até defecar.

Sonhei que a bica e a cerveja iam ser bebidos em copos de plástico e gordura humana um dia ia pagar imposto especial.

Sonhei que ia ser filmado trezentas vezes por dia desde que saía de casa até que entrava.

Sonhei que Mil Novecentos e Oitenta e Quatro e o Big Brother de Orwell afinal não tinha passado de um livro que toda a gente devia ler ao longo da sua vida.

Sonhei que a liberdade não é um estado, nem sequer uma essência, e que quando adormecemos em cima dela ela pode voltar a ser um sonho.

Sonhei que viviamos num mundo mais justo e a caminhar para a paz e a harmonia entre os seres que se dizem humanos.

Sonhei...foi apenas um sonho.

Feliz 2008 para todos

1 comentário:

  1. Pois é... um pesadelo o que estamos vivendo. Mas maior será e sem remissão, se deixares de alimentar esses teus e meus sonhos!
    Resistir é que urge fazer, nem que seja na manutenção da imagem desses melhores valores societais.
    Um Ano Novo de muita intervenção cívica!

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