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sexta-feira, janeiro 11, 2008

Ano novo, velha forma de fazer política

O arranque do ano de 2008 é um ano recheado de acontecimentos políticos em Portugal.

Sob a capa da ética da responsabilidade, começou o governo de Socrates por não cumprir a sua promessa eleitoral de referendar o novo Tratado Europeu.

A democracia ficou duplamente pobre e a distância entre eleitos e eleitorado com condições para aumentar o já enorme fosso que os separa.

O incumprimento de promessas eleitorais ao sabor das conveniências do momento aumenta o descrédito dos cidadãos na política e agrava a já grave crise de legitimidade da democracia representativa.

O presidente da república também não prestou grande serviço à democracia pressionando o governo a não referendar o tratado e recusando a participação dos cidadãos portugueses em algo que altera profundamente a relação de Portugal com a União Europeia.

Altera substancialmente a soberania nacional e a posição de Portugal na Europa. Temos consagrada legalmente uma Europa a várias velocidades e passámos para a segunda divisão europeia, ficando o comboio da frente com o seu poder reforçado. Se o nosso poder já era reduzido a situação em termos das relações de poder piorou. A partir de agora são a França, a Alemanha, a Inglaterra, a Itália e mais um ou outro dos poderosos a comandar os destinos dos Estados mais fracos. Quem quiser que se submeta, quem não quiser vais ter dificuldades em andar.

Perdeu-se uma excelente oportunidade de discutir a Europa, o Tratado de Lisboa, de informar e formar os cidadãos e desta forma contribuir para a aproximação dos mesmos ao projecto e à identidade europeia que se quer ver construída.

Sendo eu um europeísta convicto; pode não parecer mas sou, penso que se perdeu uma excelente oportunidade para se discutir que modelo de europa se deve construir.

Defendo uma europa social, não subordinada à europa dos negócios, inspirada no modelo neoliberal.
Infelizmente, foi este modelo "único", inevitável", "indiscutível" e a "única" via actualmente possível, neste momento histórico, que venceu, e a minha modesta opinião é que este modelo europeu dos eurocratas e dos tecnocratas construído à revelia dos cidadãos mais tarde ou mais cedo ir-se-á virar contra a tecnocracia europeia.

É de legitimidade e de democracia que se trata e essa tem sido permanente esquecida num projecto que nunca poderia ser construído à margem das populações dos países europeus.

Esta semana tivemos também a decisão sobre o novo aeroporto. Alcochete Jamais!

A margem Sul não tem escolas, não tem hospitais, não tem empresas, não tem gente, não tem nada. No deserto da margem sul jamais!

Mais um tiro na credibilidade da política, dos partidos políticos e do governo em funções. Ninguém se pode admirar das elevadas taxas de abstenção nos actos eleitorais de que foi bom exemplo as últimas eleições em Lisboa e do divórcio crescente entre os cidadãos nacionais e os partidos políticos.

Assistimos também nas últimas semanas ao capitalismo à Portuguesa.
A CGD, empresa de capitais públicos, empresta dinheiro a alguns capitalistas para reforçar as suas posições como accionistas em bancos privados. É o chamado capitalismo dependente do Estado e uma modalidade de risco minímo para alguns destes interesses poderosos privados que navegam nos meandros do Estado. Alguns deles são os grandes ideólogos da teoria que defende que o grande problema de desenvolvimento do país é o de termos Estado a mais.

A saída de administradores da CGD para um dos principais concorrentes privados não pode deixar de ser interpretado como forma de interferência política na gestão do maior banco privado português.
A guerra pelo poder quando traz à tona e torna visível a rede de interesses em torno do poder económico e financeiro deixa uma imagem frágil do capitalismo económico e financeiro nacional.

Ficamos também a saber esta semana quem pagou os estudos encomendados pela CIP sobre a localização do aeroporto que resultou como melhor decisão Alcochete. Pelo menos um dos financiadores sabemos que está ligado a uma empresa de grandes dimensões, que poderá vir a beneficiar indirectamente da construção de infraestruturas de que depende a região circundante ao aeroporto. O estudo do LNEC apontou também para Alcochete. Os usos políticos da ciência e da técnica contribuem para a desconfiança na ciência e na técnica. A decisão será sempre política, a legitimação será sempre de ordem técnica.

Ano novo, velha política!

O que vale, é que tal como as instituições se transformam, também os homens passam e é pena que nos últimos tempos estes tenham sido altamente rejeitados pelo voto das populações.
Mais do que votar em quem vem, torna-se hábito votar contra quem está. E isso não é nada bom para a democracia portuguesa.

Bom fim de semana.

1 comentário:

  1. A Politica Portuguesa é como uma serpente ...

    Sempre aos ziguezagues ...!

    A contornar os problemas conforme as conveniencias ...!

    Um BOM FDS!
    Um abraço da M&M & Cª!

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