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domingo, outubro 21, 2007

E se a pobreza não fosse uma inevitabilidade social?

As sociedades modernas ocidentais foram construídas sobre os valores da igualdade, da liberdade e da fraternidade.

Fenómenos como as abíssais desigualdades sociais que hoje se agravam na sociedade portuguesa e os 20% de população em risco de pobreza constatados neste início de milénio, não podem mais ser sentidos como legítimos e aceitáveis à luz dos valores consagrados na constituição da república portuguesa.

Se as causas da pobreza são multiplas e remetem em última instância, para a manutenção e reprodução de desigualdades económicas e culturais estruturantes da sociedade portuguesa, continua a existir uma parte da pobreza difícil de erradicar, derivado às representações sociais dominantes na população portuguesa sobre este fenómeno, que assumem contornos ideológicos.

A herança ideológica de legitimação do fenómeno da pobreza sob a forma do lema "somos pobres, mas honrados" ou ainda o peso da ética catolicista do "repartir o pão pelos pobres" deixaram marcas na sociedade portuguesa que em nada ajudam a diminuir a dimensão deste fenómeno social.

Inquirida recentemente a população portuguesa sobre o fenómeno da pobreza, um terço dos portugueses, respondeu que a pobreza existe por causa do "destino" infeliz de alguns e outro terço dos inquiridos respondeu que a pobreza tem que ver com a "preguiça" dos homens e mulheres de Portugal.

Sintetizando, dois terços dos portugueses atribui culpas aos próprios pobres, pela situação desfavorecida em que se encontram, o mesmo é dizer que os dois milhões de pobres existentes em portugal, corresponderiam a dois milhões de "preguiçosos".

Dos inquéritos recentes sobre a pobreza, ficamos também a perceber o importante papel do Estado Social na diminuição da pobreza em portugal, uma vez que retirados os apoios do Estado às populações em situação de maior vulnerabilidade social os números da pobreza disparavam exponêncialmente.

Numa época em que se assiste a uma agressiva retirada do Estado Social, nas suas funções essenciais de protecção das populações mais desfavorecidas, como compatibilizar isso com mais justiça social?

A discussão política e ideológica, o mesmo é dizer, interesseira e interessada, sobre as funções fundamentais do Estado, numa época de crise do Estado Providência, está por fazer.

E era bom que os partidos mais à esquerda não se deixassem levar pela evidência que se quer "naturalizada" das funções essenciais do Estado serem a segurança, as relações externas e a soberania nacional, o mesmo é dizer que são as funções do estado neoliberal na sua forma mais dura.

Porque a retirada do Estado Social significará "inevitavelmente" o agravamento das desigualdades sociais.

Bom resto de fim de semana.

2 comentários:

  1. Passo por aqui todas as semanas e acho que os vossos posts são muito densos. Não poderiam colocar estas ou outras questões de modo mais acessível ? Acho que tinham mais visitas. Isto é apenas a minha opinião. Fernando

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  2. Agradeço a crítica. Mas tenho alguma incapacidade em conseguir simplificar aquilo que por vezes é complexo. Penso que até os simplifico demasiado, arriscando a ser excessivamente redutor no tratamento das questões discutidas.

    De toda a forma fica registada a observação.

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