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sexta-feira, setembro 28, 2007

O Poder dos media, a crise da democracia e a atitude de Santana Lopes

Santana Lopes, juntou a razão à emoção e recusou-se a continuar a entrevista da SIC Notícias realizada pela jornalista Ana Lourenço.

Poderia ser mais uma birra emocional do ex-primeiro ministro de Portugal, mas é sobretudo uma lufada de ar fresco na arrogância mediática com que os jornalistas televisivos tratam uma boa parte dos cidadãos-audiência de que necessitam.

Os media colonizaram o espaço público e a arena política e social. Só existe quem aparece, e aparecer é mais importante do que ser.
A chave da existência social está colonizada pelo poder mediático.

Karl Popper já tinha avisado que a televisão poderia ser um perigo para a democracia e Bourdieu vai mais longe e defende que o pouco que se pode dizer na televisão deveria ser altamente negociado nas suas condições de utilização da palavra.

Os jornalistas, na maior parte das vezes, dão, e tiram a palavra, a quem querem, quando querem e nas condições que querem.

O caso Maddie foi um caso escandaloso de "jornalismo de sarjeta", para utilizar um termo celebrizado pelo Ministro Augusto Santos Silva, em que a maior parte das notícias sobre o desaparecimento da criança foram baseadas em não acontecimentos.

A máxima que nos diz que o cão que mordeu o homem não é notícia, mas o homem que mordeu o cão certamente que já o é está claramente ultrapassada. O que prevalece como paradigma é a máxima "se o jornalista mordeu o homem e o cão" então temos notícia e podem crer que em nome da sacrossanta audiência, o jornalista morde as canelas de ambos.

Demasiadas vezes, jornalistas consagrados, em vez de escutarem os entrevistados, impedem que os mesmos exponham o seu racíocio até ao fim, não permitindo aos teleespectadores perceber o ponto de vista do entrevistado.
Um exemplo claro destas tristes situações é o programa prós e contras, onde a jornalista-estrela, coloca as questões, responde em vez do entrevistado, tira-lhe a palavra quando lhe apetece e não se inibe a produzir em massa juízos de valor, que dizem mais dos preconceitos e estereótipos que lhe vão na alma sobre os problemas em análise, do que esclarecem o teleespectador.

O "Incidente" com Santana Lopes seria uma excelente oportunidade dos media se pensarem a si próprios e partir para novos mecanismos reguladores, que travassem a escalada de sensacionalismo.
E isto é tanto mais importante para os próprios media, porque depois, não têm que se queixar das "ingerências" governativas no "controlo" dos meios de comunicação social.

Vale a pena relembrar que a blogosfera foge ao controlo da palavra mediática oficial e até isso deveria fazer repensar as práticas jornalisticas em vigor, pois o controlo dos cidadãos sobre a qualidade do jornalismo profissional é maior do que nunca.
É que o critério audiências não justifica tudo e nem sequer talvez garanta a sustentabilidade a médio e longo prazo das empresas de comunicação.

Bom fim de semana

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