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sexta-feira, março 23, 2007

Blogs, Democracia e Censura: Novos poderes e alargamento do espaço público

Os blogues trazem consigo potencialidades fantásticas para a democracia.

Numa época em que a democracia se transformou em partidocracia, em que apesar da revolução de Abril ter aumentado a liderdade de expressão, a cidadania participativa ainda é muito limitada na sociedade portuguesa, não são poucas as vezes em que no dia a dia, os cidadãos pensam umas quantas vezes antes de dizerem o que lhes vai na alma.

Não são também poucas as vezes, em que se diz aquilo que é politicamente correcto dizer, face a chefias e superiores hierárquicos.

Não são poucas vezes, em que não se diz aquilo que se pensa, pois sabe-se que as consequências da "liberdade de espírito" são prejudiciais à vida pessoal e profissional.

A troca de argumentos e de ideias, o debate ideológico, continua muito agarrado ao pensamento dominante e facilmente as pessoas nas suas vidas interpretam uma argumentação contraditória de ideias como um ataque pessoal (falácia ad hominem).

A democracia em Portugal ainda está na pré-história da troca aberta de ideias.

Os blogues porque fogem ao controlo dos partidos políticos e ao controlo dos media são um intrumento com potencialidades de emancipação social fantásticos.

Os poderes públicos e políticos nuncam gostaram deste tipo de abertura e sempre viram com maus olhos a possibilidade de poderem ser "fiscalizados" e alvos de críticas que não controlam.

São vários os blogues que têm sido objecto de censura e de tentativas para tal.

Nada de novo na história. Foi assim com todos os meios de comunicação. Com as rádios, as televisões, a imprensa escrita, e claro, agora, com a blogoesfera.

Mas a História também nos ensinou que o Big Brother sempre deu mau resultado político e que os cidadãos encontram formas alternativas de emancipação social. O poder político vai ter que aprender a relacionar-se com esta nova realidade. E era bom que escutasse activamente o que se passa na blogoesfera.

Talvez fosse uma excelente forma de saber o que vai na alma dos cidadãos e de melhor corresponder às suas expectativas...talvez...sempre o talvez...

Saudações para esta nova era da democracia e um abraço para todos os cidadãos da blogoesfera.

João Martins

sexta-feira, março 02, 2007

Neoliberalismo e flexi-segurança: a instabilidade social como modo de vida

A moda vem do Norte da Europa e faz as delícias do capital!

Flexisegurança significa que o patronato aumenta as suas facilidades em despedir os trabalhadores...ao sabor dos ciclos económicos...e que seria o Estado a assegurar a protecção social dos "dispensados" e a ajudar na reinserção social dos mesmos.

Ora, num país com dois milhões de pobres, num país com os salários mais baixos da União Europeia a 15, num país onde crescem as formas de emprego atípicas, onde aumenta exponencialmente a subcontratação, o emprego temporário e a massiva precarização, os tecnocratas fracamente pensantes e seguidistas das grandes orientações das instâncias económicas internacionais, comodamente instalados no governo nacional, mais não sabem fazer do que assumir acriticamente as orientações mais radicais da ideologia neoliberal.

Podem bem dizer que a defesa do modelo social europeu é "retrógada", que as leis do trabalho são "rigídas" e que a "flexibilização" do mercado de trabalho é a mágica solução para o crescimento económico. Do que não me convencem é de que não se trata do maior ataque da história aos direitos dos trabalhadores depois da segunda guerra mundial à escala global.

O desmantelamento do Estado Social com a privatização e a mercadorização do Sistema Nacional de Saúde, a tendência crescente e a forte pressão neoliberal para a mercadorização do Sistema Público de Educação, a redução clara no apoio à protecção social, a retirada "agressiva" dos direitos dos trabalhadores resultante de lutas sociais que trouxeram melhorias nas condições de vida e de trabalho a uma boa parte das populações mais pobres, conduz inevitavelmente ao agravamento das desigualdades sociais, à instabilidade social, ao aumento da criminalidade e da desorientação social, ao elevado consumo de ansiolíticos e a uma sociedade em que o contrato social baseado na igualdade de oportunidades e na redistribuição global da riqueza está no fim da sua vida.

Somos governados por tecnocratas sem o mínimo de consistência política para pensar a relação do político com o social e claramente dominados pelo poder do capital financeiro.

Um dos motivos pelos quais Socrates não tem oposição à direita é que o "socialismo moderno" ocupou o espaço da direita neoliberal.

Portas voltará em grande com o melhor contexto político para ser o grande rosto da oposição com o populismo radical de direita.
E mais grave que Socrates será sempre o pós-Socrates que surgir na direita portuguesa.

Lois Waquant, sociólogo francês de renome internacional, numa obra do género livro de bolso que se lê numa tarde de fim de semana, nas salas de lazer da Assembleia da República, está farto de avisar que o Estado Penal está a substituir o Estado Social numa boa parte dos países Ocidentais com tendências a alastrar por uma boa parte dos países da Europa.

Os gastos em segurança, construção de prisões, tecnologia de vigilância e em polícia está a aumentar cada vez mais nos orçamentos nacionais em detrimento do investimento na educação, na protecção social e nas áreas sociais.

A mão direita do Estado está a substituir a mão esquerda do Estado. A guerra à pobreza foi substituida pela guerra aos pobres. O aparelho repressivo de Estado está a triunfar na defesa dos interesses do capital.

E se os nossos políticos lessem "As prisões da miséria" de Waquant em vez dos relatórios da OCDE, do FMI e da OMC?

Talvez a política económica e social se orientasse por uma concepção mais justa e mais democrática...talvez...talvez...

Abraços e bom fim de semana