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domingo, novembro 26, 2006

Quando a Cultura é o parente pobre da política

A Cultura anda pelas ruas da amargura no nosso país.

Os orçamentos para a política cultural do país são praticamente inexistentes.

Os "profissionais" das artes e do espectáculo estão fortemente precarizados e com dificuldades de sobrevivencia.

A Festa da Música vai fechar para obras.

O Ballet da Gulbenkian foi extinto porque tido por muito "gastador".

O Rivoli foi entregue aos privados. Os Ruis Rios das nossas autarquias encaram a cultura como "mero" despesismo e cortam os apoios e financiamentos que a permitiam ainda respirar.

Ora a cultura é "só" a alma de um povo.Não há povo sem cultura.

Seja ela "erudita" ou "popular", de "elite" ou de "massas", a cultura é aquilo que permite a uma sociedade ou uma comunidade construir a sua identidade.

O Estado tem um papel social fundamental no desenvolvimento cultural dos povos e numa época em que a escola é acusada de reproduzir as desigualdades sociais reproduzindo no seu interior sobretudo os valores culturais da cultura burguesa, é ao Estado e às autarquias que cabe um papel de distribuidor cultural sobretudo da cultura dita erudita, que é aquela à qual as classes sociais mais desfavorecidas não têm acesso através da sua socialização familiar.

Se numa boa parte das nossas famílias não há o habitus de ir ao teatro, ao cinema, à ópera, ao museu, aos espectaculos de dança ou de música clássica.

Se na escola as artes são praticamente inexistentes no interior dos curriculos escolares. Quem teria a grande função de igualizar as oportunidades sociais de acesso aos bens culturais mais valiosos?

Só tenho um resposta. O Estado tem que ver as coisas da cultura como um investimento nas pessoas e não como uma mera despesa como é habitual constatarmos.

Numa altura em que o capitalismo predador reduz todas as esferas da vida social ao económico e à busca incessante do lucro (até a religião não escapa à mercadorização da vida social) vale a pena perguntar:

Mozart teria lugar no nosso mundo? Teria existência social? Seria "lucrativo"?

Miguel Ângelo teria pintado a Capela Sistina? Esta maravilha do mundo teria sido criada no nosso tempo?

Gaudi teria tido as dezenas de anos para construir a Sagrada Família?

Vivaldi teria composto as Quatro Estações?

Quem financiaria estes criadores não estando garantido o sucesso inicial em termos "lucrativos"?

Pode a cultura medir-se no número de espectadores e no lucro auferido à maneira de uma fita de Holywood?


Ps: Parabéns à Câmara de Loulé pelo esforço que parece estar a fazer na dinamização do Cine Teatro Louletano.
Sendo claramente insuficiente no desenvolvimento cultural da população louletana é justo dizer que parece haver um esforço para conseguir uma programação cultural interessante com alguma continuidade. A esquerda não fez melhor enquanto foi poder na autarquia.

Abraços culturais e bom fim de semana para todos vós.

João Martins