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sábado, janeiro 21, 2006

Problemas da Cidade de Loulé 4: Globalização, neoliberalismo e o Idalécio das Ovelhas

Três da tarde de Sábado na cidade de Loulé.A rotina habitual.
Fui buscar o jornal Expresso, jornal que nem sei porque compro. Aproveito e peço o público, jornal que verdadeiramente aprecio. E lá vou comer uns deliciosos carapaus assados no restaurante "O Beco".
Bom peixe grelhado, muita simpatia de quem atende, mas como não consigo estar muito tempo no mesmo lugar, terminado o almoço, vou até ao Avenida beber o cafézinho da praxe e por as minhas leituras em dia.
Loulé é admirável para quem quer disfrutar da tranquilidade do fim de semana.
Do Beco ao café Avenida, trajecto curto mas de boa digestão, deparo-me com o encontro habitual:
-O Idalécio das ovelhas. Vejo-o a vir na minha direcção e as contradições aparecem na minha memória. Oh não,lá vem o gajo pedir-me a moedinha habitual.
Mais um euro que vai à vida. Pode ser que o tipo não me veja.
Isto de dar todos os dias uma moedinha saí caro ao fim do mês, no fim do ano se calhar até ia de férias ao Brasil.
Mas enfim, c'est la misère du monde como diria Bourdieu e a moedinha de um euro lá sai da algibeira do João para o bolso do Idalécio.
E a história repete-se até ao infinito sempre que encontro o Idalécio das Ovelhas.

Poderia ser um episódio isolado mas não é de forma alguma. Mais uma vez estamos perante um problema social de contornos estruturais.

Com o processo de globalização hegemónico "incentivado" pelas doutrinas capitalistas neoliberais as desigualdades sociais e a exclusão social têm-se vindo a agravar progressivamente.

O último relatório de Desenvolvimento da ONU constatava o aumento das desigualdades sociais à escala mundial entre países ricos e países pobres, assim como o aumento das desigualdades e das disparidades de rendimento no interior dos países mais ricos.

Em Portugal a diferença dos 20% dos cidadãos mais ricos e os 20% mais pobres também evoluiu no sentido de uma maior disparidade social. A pobreza no nosso país entre a absoluta e a considerada relativa anda há volta dos 2 milhões de pobres o que significa 20% da nossa população.

O fenómeno é constante em quase toda a parte do globo terrestre com algumas honrosas excepções.

Criamos também o "quarto mundo" dentro dos paises ditos mais desenvolvidos e assistimos a processos crescentes de "desafiliação" social tal com refere o sociólogo francês Robert Castel.

Se o capitalismo industrial do século XIX provocou nas palavras e Karl Marx uma geral "pauperização" social com o afastamento do trabalho das fábricas a quem ele não acedia, os chamados indigentes, vagabundos e marginais; as sociedades globalizadas de hoje com a metarmorfose da questão social fracionaram o tecido social entre os que estão "in" e que pertencem às classes medias e altas e têm emprego fixo, protecção social, vivendas com videoviligância e segurança social efectiva (apesar de serem estes os que por vezes mais se sentem inseguros).

Do outro lado os que estão fora e à margem da sociedade, os Idalécios das ovelhas, os que estão "OUT", sem emprego ou com empregos precários, sem habitação minimamente condigna, vivendo nos bairros "problemáticos" como os designam jornalistas e políticos e pior que tudo excluídos das condições minímas de acesso à cidadania e de uma identidade pessoal e social condigna.

É por isto que entro em dissonânica cognitiva cada vez que vejo o Idalécio.

Por um lado penso...bolas...menos uma moedinha...era mais um brinquedo que comprava para o Pedro...

Por outro...são estas as principais vítimas de um sistema que serve cada vez mais a cada vez menos (os que mais beneficiam com o sistema claro) actores do sistema social global.

Tenho também que referir que os casos de risco de exclusão social visíveis em Loulé também não me parecem tantos quanto isso e que a intervenção da autarquia e dos organismos competentes, assim como de grupos de cidadãos que resultem do que Boaventura Sousa Santos designa de "sociedade providencia" poderiam ajudar a resolver alguns destes casos.

Abraços e espero pelos vossos comentários e de iniciativas quem sabe...

João Martins

4 comentários:

  1. Obrigado João pela tua sensibilidade, pois ao contrário da maioria das pessoas, somente observam o mundo que as rodeia à volta do seu próprio umbigo.

    Não que as condene, longe disso, porque perante tais situações, surge uma impotência tal no íntimo de cada um, que leva-nos a questionar: "O que é que poderiamos fazer para alterar essa situação? Pouco ou quase nada!"

    A verdade é que o Ser Humano, tem sido premiado ao longo da História pela sua capacidade intelectual, de mudar o rumo dos acontecimentos muitas vezes contra a maré.

    Falta iniciativas, é verdade.
    Mas a divulgação do problema já é uma grande iniciativa. Quem sabe se com estas mensagens no teu blog, não se encontra um começo promissor de retrocesso nas desigualdades das sociedades? Pode parecer pouco, mas na minha opinião a mentalização precede a acção.

    É por este e outros motivos que fazem deste blog um dos melhores do género.

    Parabéns e continua assim...

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  2. Excelente ideia.
    Este blogue, e outros que surjam, pela forma como tem colocado as coisas pode ajudar a fazer aquilo que os jornais locais não conseguem fazer. Gerar uma discussão desinteresseira, mas interessada! Força!

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